De todos os fatos surpreendentes...

124 17 100
                                    

Ter que sair da praia e simplesmente ter que ir ao encontro de Cátia foi a sequência que eu não imaginava e não queria

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ter que sair da praia e simplesmente ter que ir ao encontro de Cátia foi a sequência que eu não imaginava e não queria. Heloísa de imediato já sabia o que estava acontecendo, e bastou um olhar para os outros para que eles também tivessem noção do que estava acontecendo. Clarissa e Tati eram as únicas que não sabiam o que estava acontecendo e Diego fazia de tudo para que elas realmente não soubessem. Parecia mentira tudo aquilo. É um momento de maravilha e mil de pura desgraça. Como que pode? Eu devo ter grudado chiclete no cabelo de Cristo crucificado, na minha última encarnação. E mijado na cruz, na sequência... Ter que ouvir a voz dela pelo celular foi uma coisa tenebrosa.

Dou um beijo em Clarissa e saio da praia, indo em direção à cidade. Antes que eu consiga chegar na calçada, Heloísa me alcança.

- E aí, Zé... O que ela queria? - pergunta Heloísa.

- Não sei... - respondo - Ela disse que queria conversar. Disse também que era apenas uma coisa boba e que havia uma necessidade imensa de me ver.

- Olha... Eu a encontrei novamente uns dias atrás. Eu devia ter te falado. - diz Heloísa, esperando uma reação negativa da minha parte

- Eu imaginei... - respondi a ela, de forma calma, para sua surpresa.

- Tá tudo bem?

- Não, mas eu preciso colocar um ponto final nessa história. Do contrário vai ficar voltando para me atormentar.

Antes que eu pudesse seguir caminhada para meu apartamento, Heloísa me dá um último aviso:

- Ela parecia meio inquieta. Eu acho que só que ela tem a dizer deve ser meio sério.

- Se importa em ir comigo ver o que ela quer?

Heloísa sorri, me dá um abraço e simplesmente segue o caminho comigo. Não teria noção alguma pedir a Clarissa para ir comigo resolver esse problema com minha ex. Não apenas por ser algo recente, mas por ser algo que há a necessidade de se resolver sozinho e com as pessoas que viveram tal pesadelo comigo. E também por questões de semancol.

Me arrumo e procuro, não a coragem, mas a paciência para conseguir lidar com as bobagens da Cátia. Eu simplesmente não tinha e não possuía tempo para criar uma. Mas ia ter que operar um verdadeiro milagre para fazer aquilo acontecer de maneira suave. Eu ligo a TV, apenas para ficar ainda mais puto do que eu estava... Espancaram um cara nos Estados Unidos apenas por ele ser negro e invadiram a CDD e mataram uma criança. Ela era preta. Nada disso me ajuda.

Parece que ser um homem negro com consciência faz você se tornar mais suscetível às maldades locais e mundiais. Ainda mais tendo sofrido aquele caso de racismo de um porco fardado... Eu fico imaginando se eu tivesse um filho. O que eu faria se ele perdesse a vida por conta de um babaca racista que, por vestir farda, acha que é deus? Como preparar uma criança para viver num país onde somos maioria e, ainda assim, somos tratados como a escoria da humanidade? Eu mesmo tento as vezes entender como eu sobrevivi, porque eu não cresci na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Eu cresci em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense... Um lugar que, apesar da glamourização por conta de uma certa participante de reality show, era, é, e provavelmente jamais deixará de ser desigual e osso duro de roer... Parece mentira, mas quanto mais eu penso nisso, e quanto mais perto chega a hora de encontrar a Cátia, mais o céu escurece... Nem preciso dizer que vem tempestade aí, e ela é literal e figurativa.

De todas as pessoas do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora