- Meu filho, você está bem?
- Tô bem, mamãe. Fica tranquila, que porco fardado racista é o que mais tem no Brasil e no mundo. Fique calma que o pior já passou.
- Cabe processo? A gente bem que pode acionar o Dedé para te ajudar.
- Mãe, nem começa a viajar. Não vou processar seu ninguém, até porque isso seria uma mega perda de tempo. Deixa eu adivinhar, a senhora contou para a vovó... Meu deus, mamãe! – eu disse em tom de consternação com o que minha mãe tinha feito – A minha velhinha deve estar morrendo de preocupação. Vou lá em casa rapidinho só pegar o carro. Já volto para te buscar.
- Como assim, Carlos Maurício?! – indaga minha mãe.
- Te buscar. Até parece que eu vou deixar a senhora ir sozinha para Nova Iguaçu hoje. Não tenho aulas amanhã. Ou melhor, não tenho aulas no resto da semana. A coordenação da faculdade de Letras resolveu me liberar devido aos acontecimentos de hoje.
- Que bom, meu filho. Mas só para constar você provavelmente não me encontrará aqui quando voltar, eu já estou quase terminando de arrumar as coisas aqui.
- Tá, assim que entrar no carro, me liga. Assim eu sei se eu preciso ir direto para o Santa Letícia.
- Só pedir para ir na casa 74.
- Mãe...
- O Quê?
- Eu morei naquela casa por mais de 20 anos. Eu sei endereço completo até hoje. Condomínio Santa Letícia, Rua dos Crisântemos, Casa 74. Por favor, né?
- Ah que coisa linda, xineném lindo mamãe ainda lembra o endereço de mamãe e vovó. – diz minha mãe fazendo aquela mesma voz que eu faço quando estou falando com minha gata. Só que na frente de metade de meus alunos. Maravilha.
Passada a vergonha, saio andando e vou em direção a parada de ônibus. Com o cu na mão, com medo de ser abordado por outro policial racista e desgraçado. Mas não aconteceu nada disso.
Pego o ônibus e vou para casa, vou deixar tudo fechado inclusive a porta do terraço, para que Babu nem pense em sair para o que seria uma tragédia certa. Chego no apartamento e organizo tudo certinho para poder sair com o carro. Quase esqueço de fazer a mochila com minhas roupas. Nesse momento eu vejo o quão grande é meu apartamento. Puta que pariu... O trabalho da minha avó rendeu, viu?! Ela passou mais de 25 anos trabalhando em Brasília, no STM. Concursada. Eu ia visitá-la nas férias. A época, a capital federal não tinha muito a oferecer. Mas dizem que hoje em dia já se assemelha a uma metrópole e não mais a uma cidade de interior asfaltada e com prédios futuristas. Meu Telefone tocou, enquanto eu divagava. Era minha mãe. Só para avisar que ela já pegou o caminho de casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De todas as pessoas do mundo
RomanceA história de Clarissa, uma estudante de mestrado de 25 anos, frustrada profissionalmente, romântica (não por opção) e distraída. Que se vê um dia dividida entre a fascinação e revolta por seu professor Carlos, um homem metódico (com orgulho), organ...