Porque Tessa fica tão emotiva ao lado de Hardin?

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Já falei por aqui que adoro receber as sugestões de textos de vocês, né? Esse é um deles, onde vou tentar responder a uma pergunta que chegou pelo Whattpad (/cikademaria). Sempre é válido relembrar que o que eu trago nessa coluna é um ponto de vista a partir do material que temos acesso, que é a escrita de Anna Todd. Não pretendo fazer generalizações ou criar paradigmas, como se para todo mundo as situações tivessem o mesmo efeito, porque não é.

Dito isso, sigamos para as emoções que Hardin desperta em Tessa. Do começo ao fim da obra vemos Tessa desabrochar em uma grande mulher. Da garota que buscava criar lugares seguros de forma obsessiva quando entra na universidade, passamos à uma mulher sem segurança alguma do destino, mas completamente segura de si, pronta pra enfrentar caminhos nunca antes imaginados. E de onde vem essa mudança? Como acontece para Hardin, os dias melhores não chegam por um milagre, mas por um crescimento árduo e doído, mas inevitável.

O que os mantém no trilho desse difícil de caminho é o desejo. Desejo pelo outro, mas principalmente, desejo pela descoberta que vão fazendo de si mesmos para dar conta desse laço com o outro. Isso os faz ficar e retomar do ponto de partida sempre, ainda que houvessem decepções.

Em algumas partes da história Tessa diz a Hardin que ele desperta o que há de pior nela. Perto dele, ela sentia raiva, chorava, não tinha certeza alguma do amanhã, embora também fosse capaz de amar. A princípio, ao meu ver, Hardin despertava algo que até então ela mesma desconhecia. É como se quando estivesse com ele, ela nunca soubesse o que poderia encontrar, o que iria sentir, qual sentimento novo ele poderia fazê-la ter. O 'nunca saber o que esperar' a deixava sempre nesse sentimento aflorado, e de certa forma, em uma insegurança, por não saber o que fazer, se poderia perdê-lo com alguma fala ou comportamento, por exemplo. É o que acontece nas paixões: tememos perder o outro, e aí nos desconcertamos.

Ao longo da história vamos percebendo que ele não despertava o pior nela. O que ele despertava era uma versão dela que ela não estava disposta a admitir que existia. A espelho do que vivia com Hardin, Tessa encorajou-se a abrir mão de todas as certezas para bancar os seus reais desejos. Abriu mão da faculdade que sempre sonhou em fazer, da comodidade de deixar para trás a história do pai – sem ter questionado o bastante sobre, do emprego que lhe pareceu dos sonhos, e até da carreira profissional inicial, permitindo-se viver apenas o que lhe dava prazer.

Portanto, o que Hardin desperta em Tessa é o desejo. O desejo sexual, mas também o desejo pela vida. Quanto mais Tessa se aproximava disso, mais desconcertada ela ficava. Por trás do medo de perdê-lo, havia o medo maior de perder-se na pessoa que ela estava se tornando, e não poder voltar mais atrás em quem ela era antes. Quantas vezes ela não se pegou questionando sobre a possibilidade de não ter descoberto isso e ficado acomodada na vida que tinha antes?

A emotividade portanto, vai além da pergunta "quem serei eu se perdê-lo?", mas "quem serei eu sem essa mulher que não consigo mais domar?". É curioso porque quanto mais segurança ela esperava dele, mais ela queria independer do que ele pensava. Ele funcionava como essa mola de desejo entre amar o outro e amar a si mesma. E é claro, separar-se do outro causa desconforto. É muito mais cômodo manter-se na relação de objeto do desejo do outro do que bancar o próprio desejo. E isso tem um custo, e o mais caro deles é encarar que, uma vez separado, voltar a ser moldado pelo desejo do que o outro espera, dos pais, da sociedade etc, deixa definitivamente de ser uma opção.

Custa caro, é sem volta, mas é ao mesmo tempo muito libertador. Concordam?

After no divãWhere stories live. Discover now