After, do livro ao filme e em direção ao desejo

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Aproveitando a semana que comemora um ano de lançamento do primeiro filme da série After, resolvi escrever um texto para conversarmos sobre isso.

Já estamos a caminho do segundo filme e ainda hoje existem comparações entre a obra escrita e a do cinema. Mas afinal, o que muda de verdade? São narrativas diferentes, plataformas distintas, com tempos, cronologias e construções adaptadas. Óbvio que serão diferentes, porque tem objetivos e formatos de consumo diversos. Já comentei na análise que fiz sobre o primeiro filme, que obviamente o que se vê nas telonas não passa nem perto do imaginário que a gente faz numa leitura. E tudo bem, porque um filme jamais irá destruir a versão que você criou para o livro. É fato.

Mas não é do óbvio que esse texto vai tratar. Ele irá discorrer sobre uma mudança invisível, que vai além da plataforma, que diz respeito ao desejo do leitor/espectador.

O livro é um endereçamento direto ao imaginário do leitor. É um momento ao mesmo tempo íntimo e desvelado. Íntimo porque é singular, particular, de cada um. E desvelado porque não tem borda, extrapola todos os limites do que é dito. Um autor sempre irá saber o que escreveu, mas nunca saberá como o outro leu. É próprio de um texto, de qualquer narrativa. Por isso divide opiniões. A Ana com certeza não escreveu sobre o relacionamento com intuito de polemizar ou abrir perspectivas negativas para alguns leitores, mas é impossível saber como o outro irá ler. Cada um atravessa a obra a partir das suas próprias questões.

O que se partilha nos grupos e no fandom são identificações à leitura, mas é impossível 'visualizar' a história do jeito que você visualizou enquanto lia e criava os seus próprios cenários. E essa é a graça dos livros, cada um faz a sua leitura do jeito que é particular e só seu. Você pode até encontrar pessoas que partilham de opiniões semelhantes, mas que viveram, sem dúvida alguma, experiências totalmente distintas.

No filme a história muda de figura, literalmente. Enquanto no livro o acesso era direto ao imaginário, no filme o espectador ocupa o lugar de uma 'quarta parede' do cinema. Além da tela e das paredes laterais, a parede final, que sustenta aquilo que está posto em cena, é o espectador. E quando se dispõe a assistir uma obra, ele concorda automaticamente, que verá uma nova versão da história que ele gosta, criada por um diretor, com cenários e personagens muito diferentes daqueles que você imaginou e até desejou.

Sim, o cinema é uma obra completa do imaginário de alguém para quem concorda em assistir. Não há espaço para o desejo, como no livro. É uma obra fechada, tratada e filtrada sobre uma nova leitura de quem produz e dirige. Então, o que vê-se no cinema é a leitura que o diretor fez da obra da Anna Todd, que jamais será idêntica a sua.

No filme não há necessariamente, espaço para que o desejo se coloque. A dificuldade de quem vai ao cinema depois de ler os livros é achar que irá ver exatamente ali a retratação do seu imaginário. O grande barato da arte nas telonas é quando o leitor concorda que: "tenho a minha versão da história e vou ali assistir como o outro a vê". O papel do cinema é o mesmo que os grupos das redes sociais fazem, o de identificar como cada um leu de formas distintas, a mesma obra.

Para o próximo filme, com uma estratégia bem interessante de divulgar pequenos trechos, os criadores já vão assumindo em pequenas doses, um real "acordo" com o leitor. É como se dissessem: "Sabemos que na sua cabeça o Hardin era diferente e que a relação deles aconteceria por outras vias, mas aqui, nessa adaptação da obra, a gente vai contar desta maneira". E parece dar certo, porque a cada flash divulgado a gente retoma como tínhamos imaginado que seria aquela cena, mas acaba concordando de alguma forma com a versão do cinema. E claro, para o segundo filme isso estará mais claro, uma vez que os personagens já estão intrínsecos no nosso imaginário e já é quase impossível ver qualquer imagem do Hero Fiennes-Tiffin sem associá-lo a imagem de Hardin, por exemplo.

Portanto, preparem-se para o segundo filme, celebrem o aniversário do primeiro, mas jamais se esqueçam que a melhor história sempre foi e sempre será a que você criou quando leu o livro pela primeira vez. J

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Nota: recebi várias indicações de cenas e situações de After pelo Instagram @afternodiva e adorei! Já estou pensando em textos sobre elas. Obrigada a quem enviou. 

After no divãWhere stories live. Discover now