I Want It All • Maylor

novocaine

O sentimento de não sentir nada, quão irônico? E extremamente viciante.
A garrafa de cerveja quase no fim balançava em minhas mãos enquanto eu encarava o chão do meu quarto, o cigarro suavemente pendurado entre meus lábios, e a solidão me acompanhando.
Nesses momentos, em que nada me entretém, em que minha única companhia é o assombro dos meus piores pensamentos... a única solução é sair.
Fugindo como sempre, típico Roger Taylor.
Apesar de meio tonto, consegui me vestir. A calça parecia mais apertada do que o normal, talvez eu tivesse ganhado um pouco mais de peso. Os sapatos me incomodavam, a probabilidade de eu ter colocado pares diferentes era alta. Mas, deixando todo esse desconforto de lado, saí pela porta em direção a casa noturna mais próxima.
Uma caminhada de dez minutos sobre uma fina garoa me fez espairecer, me fez sentir leveza.
Ao chegar no local familiar, busquei a primeira banqueta disponível em frente ao bar. O lugar estava cheio, as pessoas conversavam sem parar e eu finalmente tinha "companhia". Eu podia não estar sozinho, mas estava solitário.
Conversei com algumas garotas e trocamos ideias, mas nenhuma delas me interessou. Nem mesmo para a noite.
O ambiente fechado me deixou claustrofóbico, a impressão era de que o ar lá não circulava e me sufocava. E novamente, eu precisava sair.
Sentei na calçada molhada a umas quadras dali, novamente, sozinho.
Relutei comigo mesmo, mas acabei pegando meu celular e mandando uma mensagem para o contato que fazia meu coração pular uma batida.

Brii, tá acocordaco?

Digitei com dificuldade, e aguardei sua resposta que demorou a vir. Minha boca salivava de ansiedade, e eu não conseguia manter minhas pernas quietas.

Tou co saudaude
:(
Pq naum me ama?
Si amasse nau taria longi
E ia assumi

Como esperado, ele não respondeu. E eu também não sei o fim que dei aquela noite. Não me lembro de chegar em casa, só me lembro de ver que a mensagem tinha sido visualizada e ignorada com sucesso.
Acordei na manhã seguinte no meio da minha sala e cambaleando caminhei até o banheiro, pra esvaziar minha já dolorida bexiga.
Depois de sair de la com o rosto mal lavado, busquei café na cozinha e também um Tylenol para acabar com a dor de cabeça infernal.
Novocaína, porque seu tão perfeito efeito tem fim?
Olha o que me fez fazer.
As fracas memórias da noite anterior vieram a cabeça, e eu corri para buscar meu celular e ver a merda que tinha feito, rezando pra ser alucinação.
As mensagens para o Brian estavam todas lá, mas tinha mais.

Estou indo.

A visão embaçou e meu cérebro não conseguia processar direito. Até que uma voz surgiu de trás de mim.
"Não acredito que realmente dormiu no chão"- virei pra trás e encontrei a figura esguia de John encostado na parede da sala.
"O... que? Eu..."- minha dor de cabeça parecia aumentar, estava insuportável.
Ele se aproximou e me envolveu com seus braços, me deixando mais calmo.
"Ele vai acabar com a minha sanidade"- sussurrei enquanto tentava regular as batidas aceleradas do coração.
"Desculpe"- acariciou minha cabeça .
"Que merda eu fiz?"-