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O clima dentro do estúdio era instável, para não dizer uma completa gritaria vindas de discussões sem sentido. A tensão era palpável no ar, especialmente entre Brian e eu. Ele se recusava a sequer trocar olhares comigo, o que dirá ter uma conversa que não envolvesse o "estupido amontoado de palavras que você chama de música" citando o próprio em relação a música que apresentei para colocar no álbum.
Ao contrário do que pode se pensar, eu sabia que ele não estava bravo, esse não era o Brian. Esse era sua maneira de lidar com a decepção, e isso era tudo o que ele sentia, simples e dolorosa decepção amorosa.
Eu não o culpava, as minhas ações não foram das melhores, inclusive podiam ser consideradas das piores. Embora eu ainda tentasse entender o que foi que aconteceu naquela noite.
Quando eu disse a ele que nunca havia superado Dominique, era a verdade. Mesmo depois de tantos anos tecnicamente afastados, me utilizava de outras mulheres para tentar preencher o vazio que ela deixou. Só que nunca amei nenhuma delas, e nunca me esforcei para sequer conhecê-las. O medo de ser rejeitado, de tudo acontecer de novo, não permitia que esse horizonte fosse explorado.
E com Brian foi diferente. Era como se estivesse pré-destinado desde o começo. Algo sempre me incomodou em relação a isso, como eu me sentia vulnerável perto dele. Especialmente o modo como as já conhecidas borboletas dançavam no meu estômago enquanto ele falava comigo. Ou talvez o modo como eletricidade corria pelo meu corpo quando ele me tocava.
Acima de tudo, foi natural.
Dominique se igualava a ele em certos pontos, tirando o fato das borboletas, isso realmente era um sentimento que apenas Brian May conseguia causar em mim. Porém ter visto ela realmente mexeu comigo, de uma forma que acabei agindo por impulso.
Me arrependo daquele beijo mais do que tudo, e não só do beijo em si, também do que ele representava. O ato demonstrava disponibilidade, coisa que no momento eu duvidava ter já que me dedicava ao guitarrista; mostrava reciprocidade, algo que também duvidava que houvesse.
Não nego que ainda seja apaixonado por Dominique, jamais. Sei conscientemente que sou louco por ela. Assim como sei que ela não me ama com a mesma intensidade. Nunca amou.
E esse, meus amigos, era caroço entalado.
Mais tarde naquele mesmo dia, Freddie e John discutiam a composição do baixo e sua evolução durante a música.
O problema era que a entrega do álbum já estava atrasada em uma semana, faltava pouco para finalizar. Só mais duas músicas. O que deixava todos com os nervos à flor da pele.
Brian dedilhava a Red Special no canto do estúdio, enquanto cantarolava as letras estampadas no pedaço de papel.
Ele percebeu meu olhar fixado nele, e suspirou alto.
"Não tem um kit de bateria pra consertar, Taylor?"- disse com o intuito de soar irônico, mas falhou miseravelmente. Apenas soou gentil, como de costume.
Nesses momentos eu noto a diferença entre nós dois, enquanto ele não menciona o verdadeiro desconforto entre nós. Eu, em seu lugar e com a minha forma de lidar com as coisas, faria questão de comentar cruelmente Não tem uma boca para beijar?, insinuando os desagradáveis eventos da noite anterior.
Mas Brian não o fez, como eu já disse antes, esse não era ele.
"Tenho muito na cabeça"- disse esperando que ele ao menos se interessasse pra desenvolver uma conversa, e vi minhas expectativas irem ralo abaixo quando ele voltou a tocar a guitarra sem nem me responder.
Distância, era a palavra que eu poderia usar pra descrever. Tudo parecia mais distante. Não uma simples distância física, pois esta pode ser consertada com uma pequena caminhada de 10 passos. Não, não essa distância. Era a distância emocional, essa é a que realmente mata. Brian estava perto e longe ao mesmo tempo. Não havia nenhum suporte emocional que pudesse possivelmente suportar o peso desse sentimento. Eu sabia que ele sentia também.
John tomou um tempo de sua discussão com Freddie para se sentar ao meu lado, tinha uma expressão cansada em seu rosto. Ou talvez eu a tenha confundido com preocupação, considerando o que ele perguntou em seguida.
"O que aconteceu com vocês dois?"- seus olhos ficados em Brian, que ainda dedilhava a guitarra concentrado.
Primeiramente achei estranho ele me perguntar, já que Brian tinha ido pra casa dele quando foi embora. Imaginei que ao menos ele contaria o por quê da mudança, ou talvez ele o tenha feito e John não acreditou.
"Bri e eu nos desentendemos"- não era a completa verdade, mas também não chegava a ser uma mentira. Eu não sabia se o guitarrista queria expor momentos íntimos que tivemos, então apenas omiti essa parte.
"É o que ele disse"- me diz com a sobrancelha arqueada-"Não sei se acredito"- semi cerrou os olhos.
John Deacon tinha a personalidade completamente oposta à minha, em todos os sentidos. Um era extrovertido, o outro era introvertido. Um era rebelde, o outro era certinho. Um era escandaloso, o outro era quieto. Um era loiro, o outro era moreno.
Os dois eram amigos.
Talvez fosse isso que fizesse funcionar.
John costumava ficar na dele, tocando baixo em silêncio, mas isso não significava que ele estava desligado do mundo. Pelo contrário, era o mais observador de nós três.
Não tive dúvidas que ele notou o ar estranho, até porque há ontem Brian e eu estávamos como carne e unha. Uma mudança repentina dessas... tem uma razão.
"Esse clima vai incomodar durante a tour"- fez questão de informar, ainda que assumisse do meu conhecimento disso-"Tratem de se acertarem antes de embarcarmos no avião. Não vou dividir quarto com nenhum dos dois"- ele sorriu de canto, esboçando o tom brincalhão que me fez rir.
Naquele momento eu me senti um pouco mais leve, apesar da culpa pesando no peito.
Antes mesmo que eu me desse conta, estava fazendo o caminho até onde Brian dedilhava sua guitarra e cantarolava baixinho um protótipo para o álbum.
Não sabia o que ia fazer, ou dizer. Mas, de uma coisa eu tinha certeza.
Eu o amava. Eu amava Brian May.

I Want It All • Maylor Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang