IV. A única regra do inferno

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Música indicada: Not About Angels (Birdy)


C/D

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C/D


Não consegue ficar longe dela. Não quer ficar longe dela. Lorenzo só quer olhar em direção à dona de cabelos loiros em sua versão humana e tão familiar, aquela que preenchia o buraco em sua vida que não lembrava ter, mas sentia. E ela é tão bonita. Todos os traços o deixam encantados, e Lorenzo se pergunta como conseguiu esquecer essa visão. Fica triste em pensar sobre isso, porque é como se tivessem tirado dele a parte mais doce do bolo, deixando-o com uma massa seca e intragável, enquanto ele deveria ter acesso à cobertura enfeitada e insubstituível.

— Cento e quatro anos — sussurra ele, sentado sobre o muro ao lado dela enquanto o sol atinge seu rosto e seus olhos não se movem da imagem da garota, idêntica à que conheceu em 2031. Os olhos antes amarelos voltaram ao seu castanho e o cabelo branco e enorme retornou ao seu loiro na altura das costas. — É como se tivesse estado lá com você. — Confessa. — No inferno — explica. — Mesmo sabendo que não estive.

— Você esteve lá por muito tempo antes disso — sua voz é música.

Calma e compassada, essa Eloísa é bem diferente daquela que encerrou o ciclo anos atrás. É como se saber de muitas verdades desse a ela uma dose extra paciência para pensar em suas palavras. Continua:

— Nossas memórias foram compartilhadas quando te entreguei sua energia — encara a testa dele por poucos instantes, não há rastro do poder dele, está camuflado em seu corpo humano. Alisa a perna de Lorenzo, coberta por uma calça preta e olha sua própria mão. — Compartilhei nossas energias ao longo do tempo que fiquei lá, mas já sabe disso — levanta seu rosto sem pressa, olha-o nos olhos negros como carvão, sorri. — A partir de agora não vamos mais compartilhar tudo o que sabemos a não ser que eu toque sua pedra — encosta a mão na testa dele, Lorenzo fecha os olhos ao ter a visão de mais cedo, quando desmaiou com suas asas abertas e ela ajudou-o a se recompor. — Ou você a minha — retira sua mão e ele abre os olhos. Eloísa pega a mão direita do homem e a leva até o espaço entre suas clavículas, onde também não rastro de seu poder, mas sem notar passa a ela a visão de segundos atrás, a encarando de forma gentil.

— Eu notei isso também — sussurra, coça a garganta, um pouco envergonhado, mas não entende bem as razões.

Sente como se a conhecesse, a quer por perto, mas ao mesmo tempo ainda tem a impressão de que está apaixonado por uma completa estranha. Não nega o que sente, mas quanto mais pensa, pior fica. Muitos pensamentos o invadem, Lorenzo tem dificuldade de separar o real do imaginado, o que de fato viveu ou foi ela.

— Vivi séculos fugindo dos demônios, com medo de voltar para o inferno — comenta ao afastar sua mão da pele quente de Eloísa. Suas palavras saem de forma chateada e tensa. Está olhando para o lado oposto ao dela, para o local destruído, queimado, torturado e sem vida. — Ainda me lembro do pavor que sentia e tenho essas memórias erradas voltando na minha cabeça. Sei a verdade, El — de repente a olha, o semblante da mulher não muda. — Mas ainda tremo só de pensar.

FUGITIVOS DO INFERNO 02 -Triângulo Da Morte [EM ANDAMENTO] Where stories live. Discover now