Capítulo 07

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Antes mesmo de estacionar o carro, Malu já estava encantada com a armação do circo.

 - É gigante!- exclamou ela, batendo palmas como uma criança, enquanto um rapazinho loiro e franzino cobrava pelo estacionamento.

A tenda vermelha e amarela erguia-se a metros do chão, e no topo havia uma bandeira dançando ao sabor do vento, como um Castelo saído de algum livro infantil.

Na fachada, a palavra SPETTACOLO brilhava, letra por letra, iluminada por luzes neon, que começavam vermelhas, passavam para verde, azul, amarelo, depois apagavam, para acender novamente, todas as letras de uma vez, numa dança psicodélica de cores, que fez Malu se lembrar de um caleidoscópio.

Na frente da enorme tenda, um guichê de madeira pintado de branco, trazia a palavra “Bilheteria” escrita à mão com tinta vermelha, e dentro dela, três figuras caricatas vendiam afobadamente as entradas.

Embora a fila estivesse grande, Kátia e Malu não se incomodaram, havia tantos detalhes para observar, tantas cores num só ambiente, que elas não sabiam direito para que direção olhar; mas foi depois de comprar os bilhetes e entrar na tenda colorida, que as duas mergulharam totalmente, deixando-se apoderar pela atmosfera mágica do circo.

A pequena praça de alimentação  - se é que assim podia ser chamada a aglomeração de barraquinhas de comida que havia ali – estava lotada, pessoas de todos os estilos e idades disputando lugares na fila para pipoca, hot dog, ou batata frita.

Acaloradas, as duas optaram por comprar apenas um refrigerante, sendo atendidas por um moço alto e magrelo, de cabelo arrepiado, com uma estranha cicatriz na testa, parcialmente coberta pela maquiagem.

Já acomodadas em seus lugares – na primeira fileira – as meninas trocaram risinhos animados quando uma figura esguia anunciava com voz estrondosa no centro do picadeiro:

- Rrrrespeitável Público, com vocês....Spetaccolo!

E o espetáculo se iniciou.

As luzes do circo se apagaram, mergulhando o local no mais completo breu.

Ao fundo, um telão se acendeu, criando um cenário para a primeira apresentação – as bailarinas.

Vestidas de borboletas, e com tranças armadas sobre a cabeça – como a menina que as recebera na entrada – as meninas exibiam sua coreografia beirando à perfeição.

Cada passo era precisamente executado por todas as dançarinas, que revezavam-se nas piruetas de forma graciosa.

A música no fundo, combinada com as imagens do telão, dava a impressão de estarem sobrevoando um jardim florido, como fadas borboleteando de flor em flor.

Ao fim, o público aplaudiu, entusiasmado, enquanto as meninas saiam de cena, dando lugar ao primeiro show de mágica.

- É claro que eu sei que é mentira – cochichou Kátia, quando num piscar de olhos, a assistente que se encontrava dentro de uma caixa, deu lugar a um pombo branco, que sobrevoou a platéia, arrancando urros e palmas de todos. – Mas queria saber COMO eles fazem isso!!

Ambas riram, tentando desvendar o  funcionamento do ilusionismo por detrás daquele show, formulando as hipóteses mais improváveis.

Com a chegada do palhaço, o som da música foi substituído pelo som das gargalhadas, vindas principalmente das crianças, que se divertiam com a figura colorida e com roupas largas que procurava um chapéu que, na realidade, encontrava-se pousado em suas costas.

Kátia, por sua vez, não perdia tempo com seus comentários maldosos, dizendo que gostaria de ver aquele palhaço sem aquela fantasia toda.

Depois de alguns minutos dentro do circo, Malu sentia-se dominada por uma sensação inquietante, um comichão de excitação e fascínio, que ela nem esperava sentir.

SpettacoloWhere stories live. Discover now