Capítulo 22

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Por mais que Hiram se esforçasse, não conseguia conter a ansiedade e se comportar de forma normal na frente dela.

Ela não tirou as malditas lentes de contato! – Gritava seu subconsciente, chacoalhando seu cérebro confuso, enquanto ele pensava em alguma desculpa para continuar ali.

Ele precisava garantir que a veria novamente, que teria a chance de saber quem ela era.

O semblante delicado da menina sucumbia à tristeza que o assolava e ela parecia ainda mais frágil do que na noite anterior.

Seus olhos verdes pareciam cansados e suas olheiras revelavam uma péssima noite de sono.

Ela estava pálida e a única coisa rosada em seu rosto era o lábio inferior, que ela mordia constantemente, nervosa, distraindo ainda mais Hiram, que reprimia um irracional e forte desejo de tomá-la em seus braços.

Um lampejo de sanidade transpassou sua mente, clareando por alguns segundos seus pensamentos.

O que ele estava fazendo? Aquela era sua última semana na cidade, mesmo que ela fosse a menina por quem procurava, o que ele iria fazer?

As sobrancelhas de Malu encontraram-se, numa expressão de dúvida e Hiram daria qualquer coisa para saber o que se passava dentro de sua cabeça.

Subitamente, ela congelou. Seus olhos amedrontados fixos em algum ponto atrás de Hiram, a boca aberta em uma exclamação silenciosa.

- Pedro – murmurou ela.

Sentindo a adrenalina correr por suas veias, inflamando todas as suas terminações nervosas,Hiram virou-se lentamente.

Seu corpo se enrijeceu instantaneamente e seu maxilar travou, num enraivecido protesto silencioso contra a figura que se aproximava.

O cheiro de álcool atingiu seu nariz antes mesmo que Hiram se virasse.

Pedro vestia a mesma roupa da noite anterior, mas agora ela estava suja e bagunçada.

Sua camisa pólo cara estava esfolada na parte do ombro e a lateral estava toda suja de terra, indicando que ele havia passado a noite fora, dormindo na rua.

Sua expressão estava péssima, os olhos vermelhos e inchados encaravam Malu de forma rude, deixando Hiram ainda mais irritado.

- Você não me ligou ontem a noite – A voz de Pedro soava embargada, pastosa, enquanto sua língua se enrolava e se perdia no meio das palavras.

Ele estava completamente bêbado.

Malu abriu a boca mas desistiu de falar, fechando-a novamente.

Seu rosto estava ainda mais lívido, a cor fugindo até mesmo de seu lábio nervoso, que tremia enquanto ela se apoiava no balcão, parecendo estar prestes a desmaiar.

- Você não me ligou!! – Exigiu novamente Pedro, na porta da lanchonete – Vooshêe não me ligoou e eu esperei..quem você pensa que é sua...piranha?

O pavor no rosto de Malu era nítido e seus olhos transmitiam um silencioso pedido de socorro.

As pessoas na lanchonete ficaram estagnadas, observando assustadas o rapaz bêbado e errante, prostrado diante da lanchonete.

Um senhor gordo e de bochechas rosadas apareceu afobado por detrás do balcão, sacudindo exageradamente a mão no ar e gritando, expulsando Pedro de sua lanchonete.

- Já chega – ordenava ele, com o rosto púrpura – Saia já daqui seu vagabundo, saia já da minha lanchonete!

Algumas pessoas pagaram a conta rapidamente e saíram, espremendo-se contra a porta para passar o mais longe possível de Pedro, que exalava um desagradável odor de álcool com suor.

SpettacoloWhere stories live. Discover now