Primeiro dia

297 45 85
                                    

O avião pousou e você sai sem nenhum drama. Bem... Era o que pensava. As horas? Você não tinha a menor noção do horário já que o celular descarregou. Parecia ser o mundo lhe castigando, e pra piorar, você perdeu o carregador. Ah! Que tudo e todos fossem a merda! Ótimo primeiro dia, não?

Como iria encontrar sua amiga naquele lugar imenso? Você foi ao estacionamento e nada dela aparecer. Havia se passado horas sentadas no meio fio com as malas e ainda nada. Oh deus? Por que tudo tem que ser um desafio na sua vida, Adora?

Suspirou olhando para os lados, não sabia como chegar a casa dela muto menos o que faria se ela não aparecesse. Mas, para seu agrado você ouve alguém chamando seu nome e quando viu faltou estourar de alegria. Mara veio correndo e lhe deu um forte abraço derrubando suas malas no chão enquanto ela lhe sufocava apertando ainda mais do abraço.

- Meu deus, garota! tu ta enorme. Parece que comeu o fermento puro desde a ultima vez que eu te vi. -A morena disse eufórica se separando do abraço e lhe dedicando um sorriso. - Mas... Onde caralhos você estava? te procurei na porra do aeroporto todo e você não atendeu nenhuma das minhas ligações. Pensei que tinham te sequestrado ou sei lá.

- Meu celular descarregou. Foi mau ai. - você riu envergonhada.

- Ta tudo bem. Vamos! A vovó ta esperando no carro. - disse ela já pegando uma das malas e lhe ajudando a levar para o carro.

Ao chegar você se depara com Rizzo apertando enfurecidamente a buzina enquanto reclamava da demora. As pessoas envoltas olhavam para o carro e um segurança se aproximava para pedir que aquela velha caduca de óculos de lentes grossas e cabelos despenteados parasse de atormentar todo mundo. Ela saiu do carro ajeitando seu vestido floral vermelho enfurecida olhando pro segurança e disse. "Filhinho! Onde está a praga da minha neta?" O moço ia dizer algo quando ela percebeu que vocês estavam se aproximando rindo como duas Hienas. "Ah! Docinho. Pra onde você foi Mara queridinha?"

— Vovó! Já estava aprontando? — a velha ignorou a neta por completo olhando pra você como tentasse se lembrar de alguma coisa.

— Oi Madame Rizzo.

— Toma jeito, querida! — Você foi surpreendida com um olhar desconfiado ganhando um tapa na nuca. Ela revirou os olhos e voltou pro carro.

— É doida, Adora. — ela riu. —Você se acostuma.

— Eu me lembro dela. Pelo menos não foi com aquela bengala.

************

Da janela do carro você observava os prédios gigantescos aranhando o céu de um jeito tão bonito. As pessoas passando de um lado ao outro da calçada e carros se perdendo facilmente de seus olhos. Tudo era tão lindo e perfeito, e era assim que você imaginava a cidade grande. Rizzo ficava insistentemente cutucando seu braço, lhe perguntando coisas aleatórias ou contando uma historia de sua vida pela milésima vez seguida. Mara dirigia cantando sua musica preferida que tocava no som ignorando vocês duas no banco de trás. Você ouvia Rizzo educadamente, respondendo tudo e acenando com a cabeça para que continuasse falando. Pelo menos assim você não se lembraria de Catra, afinal, você havia ido para tão longe para se distrair.

Ao chegar Mara lhe mostrou a casa e o melhor lugar para se acomodar. Sua vó morava com ela, o que já estava na cara que a velha havia odiado você desde o reencontro. Você ajeitou suas roupas, já era noite e estava extremamente cansada da viagem. Sentou-se na cadeira de balanço na varanda para poder respirar e olhar as estrelas na completa paz que estava sendo aquela noite.

— Ta apaixonada né queridinha? — Rizzo surgiu do nada da porta. Você soltou  um  gritou vindo do mais fundo de sua garganta assustada dando um impulso forte para trás e derrubando a você junto com a cadeira no chão. — Ta na cara. Não tem como ser mais obvio. — Ela continuou olhado pra você com o olhar sereno enquanto oferecia uma caneca de chocolate quente.

— Não! Claro que não. — Uma pausa enquanto você levantava a cadeira novamente e voltava a se sentar e aceitando o chocolate. — Você não deveria está dormindo?

— Não precisa trocar de assunto. Eu não preciso nem de óculos pra perceber que você está de coração partido.  - ela olhou para o teto enquanto analisava algo. Fez um bico pensante erguendo a mão  gesticulando. - Ou com dor de barriga. - estreitou os olhos. - É, tem essa possibilidade também. Quer boldo? - ela ofereceu e você olhava para aquela velha preocupada. Ela era doida mesmo. - Queridinha, depois que você fica velha, você aprende a ler as  pessoas.— Ela caminhou até o parapeito encostando o braço no mesmo. — Eu já sentir tudo isso que você está sentindo, amor. Não é difícil de conseguir ver. - uma pausa. — Quem é o ser que está fazendo você ficar assim?

— Ela não é mais nada pra mim, Rizzo.

— É sim. — Ela bufou revirando os olhos. — Para de mentir pra si mesma, idiota. É pior. Sei o que estou lhe dizendo.

— Ela não me ama. — você confessou encarando a caneca com o olhos vagarosamente enchendo de lagrimas.

— O amor é muito complicado, machuca e dói. Você nem sempre está pronto para tudo que pode acontecer, mas com um carinho ele cura até a alma mais confusa, querida. — Ela disse olhado pro quintal em um tom calmo e gostoso de ouvir. — Você já reparou nas atitudes dela? — Indagou a mulher caminhando até a porta e parando ali. — Parou pra pensar que 'amar' não precisa de palavras e sim de gestos? O que ela já fez por você, Adora? — Rizzo saiu sem dizer mais nada, lhe deixando sozinha para pensar.

Você fechou os olhos enquanto suspirava. Era tudo tão complexo que sua cabeça queria explodir. O que Felina já fez por você, adora? Diga. é tão difícil assim? Você encostou as costas na cadeira no mesmo tempo que bebericava o chocolate.

Sua mente. Ah! Como ela maltratava e ao mesmo tempo lhe fazia sorrir com lembranças de Felina. Você seguia em uma linha fina e falha para manter toda aquela pose de durona, mas estava falhando.

Até quando você vai continuar assim, Adora?

AnagapesiWhere stories live. Discover now