Décimo Sexto Capítulo: Bianca

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Meus argumentos foram descartados com tanta facilidade que me senti uma verdadeira farsa. Ganhei a maioria dos debates até hoje e se perdi foi por desistência, geralmente minha paciência extinguia assim como o interesse sobre o assunto. Contudo, Guilherme assemelhava a um caçador rodeando a presa por todos lados, nesse caso eu era o lado frágil.

— Você não gosta do tio Guilherme? — Igor perguntou, mantendo suas mãos sobre as rédeas, embora fosse eu quem controlasse o animal.

— Seu tio é um homem muito digno — respondi, acrescentando mentalmente o quanto sua insistência irritava.

— É namorada dele? Porque ouvi vovó comentando que vocês não tiveram um bom começo. Disse que o titio é cabeça dura.

— Somos apenas amigos.

— Mas, você gosta dele? — O menino voltou a perguntar.

— Quem sabe — respondi educadamente. Se dependesse de mim, não estaríamos indo para tão longe da fazenda e minha única salvação era a presença das crianças. Conversar? Por favor, poderíamos pular essa parte e agir como bons adultos que simplesmente sucumbiram a curiosidade e deixar quieto. Mas, não! O touro marrento tem que estender o tema e defender essa suposta empatia.

Observei quando Guilherme desmontou e colocou Yasmin no chão que teimava em segurar a mochila. Ela parecia uma amazona aventureira com um chapéu semelhante ao do tio.

— Vamos caminhar um pouco — ele disse aproximando de nós.

Dispensei sua ajuda, eu era capaz de desmontar sozinha e assim evitava o menor contato. Uma parte de mim ansiava por provar mais um pouco, no entanto, o lado racional dizia que Guilherme era um perigo.

— Onde é esse lugar mágico? — Questionei-o, pegando a cesta que Gislene arrumou de última hora. De relance eu observara as expressões surpresas tanto dela como de Flávia que ditara inúmeras recomendações.

Yasmin olhou para Guilherme que arqueou as sobrancelhas, um código próprio. Por acaso eu não era confiável e talvez fosse vendada? Eu deveria ter permanecido na fazenda, cuidado dos bovinos, alguma coisa que completaria meu horário. Agora me via em um lazer familiar, e ainda por cima com essa criatura!

— Nós já estamos pertinho — Yasmin respondeu com uma risada de menina levada, puxando o tio pela mão.

Seguimos a trilha numa mata fechada, dessa vez Igor caminhava na frente da irmã que mantinha uma conversa com Guilherme. Era impossível não os comparar a meus irmãos.

— Bianca, você gosta de acampar?

Acredito que meus olhos arregalaram ante a pergunta, eu esperava que não tivessem realmente interessados em um acampamento.

— Uai, gosto, mas torço para que não tenham barracas nessas mochilas.

Guilherme olhou de relance com um sorriso misterioso. Ah! Eu o mataria se resolvesse adotar esse plano cruel. Mesmo com tantas oportunidades eu não era fã de acampar, preferia dormir numa rede na área de casa.

— Quem sabe outro dia, doutora.

Nos seus sonhos Guilherme, respondi mentalmente, devolvendo-lhe o sorriso.

— Mamãe não deixa porque fala que é perigoso — Yasmin disse com suspiro, enquanto descíamos.

— E qual seria o perigo, Yasmin? Comer muito produto industrial — inquiri e ela me fitou com as sobrancelhas franzidas.

— Os bichos na floresta — ela respondeu como se fosse óbvio.

Notei que Igor já havia se livrado da mochila, lutando com a camisa e tênis. Logo, subiu em uma pedra da cachoeira e pulou. Meu coração se apertou na hora, enquanto Guilherme assistia a tudo com tranquilidade.

Em Um GestoWhere stories live. Discover now