Décimo Quarto Capítulo: Bianca

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— O que houve? Anda muito calada, Bianca, ontem chegou e foi direto para o quarto.

Fingi-me de abstrusa, separando as roupas um pouco mais ágil. Eu inventaria qualquer coisa até passear com o cachorro da vizinha ou conversar com a síndica estressada. Não me importaria de ouvir durante três horas seguidas sobre seu reumatismo, desde que escapasse do interrogatório de Priscila.

Até agora eu não queria admitir que havia sido, realmente, beijada por Guilherme. Como tínhamos terminado o dia assim? Eu só iria entregar o presente e voltar ao apartamento, uma trégua era o que almejava. Eu fui uma estúpida ao comentar o encontro com Maria Rita!

— É só cansaço e correria mesmo — respondi de modo evasivo, ligando a máquina e seguindo para a cozinha.

— Nenhuma reclamação sobre Guilherme — ela disse pensativa, cruzando os braços e conhecendo-a bem, eu não tinha como esquivar.

— Vamos dizer que sua sugestão foi acatada e tento a cada minuto manter distância — falei, dando de ombro — Ele percebeu que somos adultos — sugeri, cortando os tomates. Uma péssima mentirosa e o culpado era meu pai — Mas, onde você estava até agora?

— Levei seu primo ao aeroporto — Priscila respondeu, sentando-se.

— E você está chateada por Luís Henrique ter ido embora — minha pergunta soou como afirmação, e seu sorriso triste era uma prova concreta.

— Jurei que nunca me envolveria com alguém que tivesse filhos, Bianca.

Devolvi a faca à tábua:

— Isso soa preconceituoso, não é pecado encontrar um novo amor, Priscila.

— Eu sei! Mas eu não sou tão corajosa, Bianca, e sabemos como é a Estela. Além disso, não há semelhança entre a relação de seus pais e o suposto triângulo amoro ao qual fui adicionada.

— Um ponto negativo somente. A ex-namorada do Luís Henrique é  possessiva e não admite que o perdeu.

— O menino também não gostou de mim — ela complementou, pegando-me desprevenida.

— Espera um pouco, quando você conheceu o Diego?

Eu não tinha sido uma telespectadora fiel do envolvimento deles, só havia presenciado as discussões que geralmente aconteciam em algum cantinho das reuniões entre amigos e Luís tentando contornar a situação de uma maneira bastante equivocada.

— Em janeiro — ela respondeu com cuidado.

— Vocês ainda estavam juntos? — Priscila assentiu e eu estava boquiaberta. Nós éramos amigas e as confidências tinham que ser divididas.

— Não faça essa cara de traída, Bianca!

— Fui apunhalada pelas costas, ninguém me contou nada. Oh, meu Deus! Menti para todo mundo dizendo que vocês eram apenas inimigos declarados, tornei-a vítima de Luís, mas é muita cara de pau.

— Fica quieta, criatura — ela ralhou, jogando os grãos de feijão em mim — Eu sabia que não daria certo, então porque envolver sua família casamenteira na história.

— Eu ainda tenho esperanças, Priscila, talvez ele consiga resolver tudo com a Estela.

— É claro, imagino a expressão de ofensa dela enquanto diz que o Diego precisa dos pais juntos.

— Também não gosto dela, mas admito que ela parece ser uma boa mãe, envolve na educação do menino.

Priscila apoiou os cotovelos sobre a mesa, bufando:

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