Quinto Capítulo: Gulherme

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Acordei com uma intensa empolgação, imaginando quantas horas - para não dizer minutos - Bianca suportaria. Nosso veterinário havia se prontificado a ajudar por algumas horas, mas o restante do tempo ela ficaria sob minha responsabilidade. Ainda não tinha superado a petulância da universitária. Será que ela não sabia que as terras me pertenciam? Neguei com a cabeça, terminando de abotoar a camisa.

Seria um longo dia e eu não tinha ideia se iria sobrevivê-lo.

— Guilherme, não se atreva a ir trabalhar sem tomar café — minha mãe gritou, assim que peguei o chapéu.

Como se eu pudesse manter o estômago vazio por tanto tempo. Abandonei o quarto, indo tranquilamente até a cozinha, deveria ser cinco horas da manhã.

— Bom dia, dona Gislene — disse, puxando-a para um abraço apertado — A senhora está muito linda, por acaso pretende arrancar suspiros dos vaqueiros?

Ela bateu em minhas mãos, rindo.

— Já sou muito bem casada, menino!

— E eu discordei em algum momento? — Perguntei, fingindo indignação — Cadê aquele velhote que você chama de marido?

— Benedito saiu para a cidade, disse que iria resolver a compra daqueles cavalos.

— É mesmo, nós conversamos sobre isso ontem, eu pensei que íamos esperar até o mês que vem.

— Ele sabe que você está tão envolvido com a fazenda que é quase impossível deixar tudo aos cuidados de outra pessoa — minha mãe argumentou com toda razão, eu estava esperançoso de contratar um novo administrador hoje — Também soube sobre os estagiários.

— Não vamos ter grandes mudanças por isso, mãe — falei, enchendo a xícara de café — Conrado aceitou um dos alunos de Raul, até tentei empurrar a garota, mas ele também tem outros inexperientes esparramados pela fazenda.

— Você já foi um inexperiente, querido — dona Gislene retrucou, colocando um cesto de pão-de-queijo sobre a mesa — Agora me diga como é a jovem.

Franzi o cenho, mantendo a boca cheia para não dizer asneiras. Não tinha nada o que contar sobre a universitária.

— Quando ela estiver aqui pode me apresentar, vou gostar de ter alguém para conversar às vezes.

—Mãe, ela está aqui para aprender e não conversar fiado.

Dona Gislene colocou as mãos sobre a cintura:

— Imagino o que ela pode aprender com essas criaturas, você não me deixe saber que estão tratando-a mal. Entendido?

— Olhe só, estou sendo tratado como um carrasco pela senhora — reclamei, voltando a entupir a boca. Era só o que faltava, minha mãe começar a proteger essa doutora petulante sem nem ao menos conhecê-la.

— Como é o nome dela, Guilherme?

— Bianca e sabe cuidar muito bem de si mesma.

— Nome bonito, e ela é daqui?

— Não faço ideia, só a vi uma vez e não estou interessado na vida dela — respondi, enchendo o copo de leite e pegando um pão.

Minha mãe balançou a cabeça:

— Você está muito na defensiva — ela murmurou, fitando-me demoradamente — Ela não aceitou seus galanteios?

Olhei-a pasmo:

— Eu não dei em cima dela, mãe — disse me defendendo — Simplesmente havia dito que ela estava no lugar errado e, quer saber de uma coisa, tenho certeza que isso não vai prestar.

Em Um GestoWhere stories live. Discover now