Sexto Capítulo: Bianca

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Em dois dias eu havia feito todas as atividades que na época eram divertidas quando tinha cinco anos. Recordava das tardes na companhia de Maraísa. Contudo, o presente trazia um verdadeiro tirano. Algumas horas eram reservadas com o veterinário Alfredo, mas eu considerava pouco, pois o resto da tarde e início da noite era uma verdadeira serviçal de Guilherme.

Ele inventava cada trabalho desnecessário e sempre que um dos empregados tentava adotar a tarefa, ele proibia. Tentei ser amiga dele, a conversa estava indo bem até Guilherme me chamar de maluca.

— A doutora tem que aprender.

Nessas ocasiões eu desejava perguntar se ele era um mané. Qual o problema dele? Nós poderíamos ter uma convivência divertida, eu era conhecida por ser uma palhaça às vezes, os vaqueiros sabiam que minha companhia era agradável. Mas, Guilherme fazia com que eu me sentisse uma intrusa, sempre a expressão estava fechada e os poucos sorrisos que dera foi por causa da mãe.

— Está muito calada, Bianca.

Continuei escovando o belo alazão, que já se mostrava melhor da gripe. Não havia mais febre e corrimento.

— Por acaso tá no mundo da lua? — Ele perguntou sem muita paciência.

— Talvez, Nathan, deve ser cansaço — respondi em desânimo, eu odiava essa semana do mês. Meu organismo não cooperava e os medicamentos faziam com que eu desejasse minha cama, deixando minha barriga encostada em uma bolsa quente.

— A senhorita  Moura não tem disposição?

Comprimi os lábios.

— É bem capaz de eu ter mais pique que você, Guilherme — retruquei ao vê-lo se aproximar.

Ele dobrou os braços sobre o peito. Não sabia quem gostaria de impressionar, não estava tendo espetaculares resultados. Quem se interessaria por músculos ou aquele olhar intenso? A resposta era ninguém! Uma imagem de inocência completamente falsa.

— Mas me conta, Bianca, como estão seus pais?

Sorri para Nathan, adorando a mudança de assunto.

— Eles estão sofrendo com os gêmeos, parece que Vitória aprendeu a andar e ninguém consegue mantê-la quieta. E Miguel virou um tagarela, acho que minha mãe está assustada porque eles estão se tornando independentes.

— Ela ainda não aceita o fato de que você é adulta?

— Maraísa não é assim, ela só tem medo de todo mundo abandonar o ninho — respondi com cuidado. As mudanças também me surpreenderam, para mim os gêmeos eram bebês que precisavam de colo e muito mimo.

— E o Jorginho está preparado para o rodeio?

— Vovó disse que ele tem treinado todos os dias, mas só depois de ter feito as atividades escolares.

— Você sente muita falta deles?

Respirei fundo, acariciando o pescoço do azalão. Nossa conversa era pessoal e Guilherme parecia ouvir atentamente. Eu não queria que ele soubesse coisas a meu respeito.

— Não é uma pergunta tão difícil, Bianca — Nathan insistiu e eu tinha convicção do quanto ele era teimoso.

— Sim, morro de saudades, mas eu tenho meus sonhos e eles me apoiam — respondi — É claro que visito a fazenda e aproveito quando veem para Belo Horizonte, até esqueço um pouco a universidade.

— Isso é novidade — ele disse, impressionado.

— Raramente eles podem viajar, em especial por causa das crianças e tem a escola do Jorge. Ele não é tão empenhado nos estudos e minha mãe é um pouco rígida quanto a isso.

Em Um GestoWhere stories live. Discover now