CAPÍTULO DEZESSEIS

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Eu pensava que as folgas entre as corridas que eu tivesse a chance de passar em casa seriam tranquilas. Bom, a única coisa que eu não senti nas últimas semanas foi tranquilidade.

O contrato do aluguel do meu apartamento, que a imobiliária tinha me dado certeza que seria renovado, venceu e eu tive que mudar em cinco dias ou pagaria uma multa exorbitante. Entre as longas horas na emissora e meu planejamento para as próximas semanas, eu empacotei minhas coisas e tive que arranjar tempo para encontrar um novo apartamento. E encontrar um apartamento disponível que coubesse no meu orçamento em Atlanta no final da primavera foi como tentar encontrar uma agulha no palheiro.

Muitas ligações e visitas aos locais depois, eu encontrei um apartamento perfeito para ficar só mais alguns meses na cidade. Sim, recebi algumas propostas para novas emissoras e nenhuma delas fica em Atlanta – ainda bem. Infelizmente nenhuma delas é a mesma de Luca, porém duas possuem filiais em Chicago e eu poderia trabalhar por lá mesmo e viajar por demanda dos eventos. Porém, enquanto o meu contrato com a USN acabar, eu não posso aceitar nenhuma proposta e nem todas elas vão estar me esperando.

E quando eu penso que terei um minuto de paz, mais uma pilha de assuntos que precisam ser resolvidos para ontem cai na minha mesa.

Com o apartamento riscado da minha lista de afazeres – desfiz duas caixas, deixei os móveis de qualquer jeito e organizei meu armário – e meus assuntos em Atlanta encerrados, eu voei para Chicago. Sim, Luca, depois de encher a cara no baile e passar o dia inteiro no banheiro do hotel vomitando, se manteve firme com a ideia de pedir Eric em casamento em nossa próxima corrida. E eu ainda tive que acobertá-lo enquanto estive em Chicago para ele se certificar de que tudo sairia perfeitamente. Infelizmente, em nenhum momento ele, falou com os pais sobre isto.

Os pais de Luca fingem que o único filho que a relação deles gerou não existe além dos feriados familiares. Desde que ele se assumiu gay, eles o excluíram de tudo o que foi possível. Luca perdeu seu quarto na mansão que os dois médicos compraram em uma área nobre de Chicago, algumas festas da família e funerais, o dinheiro que eles lhe enviavam para sobreviver à faculdade e os dois únicos seres que ele achou que o amariam acima de tudo.

É, Luca só não perdeu a faculdade porque, na cabeça dos pais dele, se ele tivesse um diploma, ele arrumaria um emprego e nunca mais voltaria para casa.

Acho que a noite em que ele tocou a campainha da minha casa e desabou nos meus braços chorando foi a pior de todas. Eu nunca vi o Luca que conheci na faculdade tão abalado – nem mesmo quando ele tirou uma nota baixa logo de cara. Eu sabia desde o momento que nos conhecemos que aquele cara alto, com algumas horas semanais de academia, roupas tiradas das revistas que a minha irmã colecionava e comentários sarcásticos, não era apenas um calouro qualquer. Estávamos predestinados a sermos amigos e guardarmos os segredos do outro até que a morte nos separasse – e fazer de tudo para nos ajudarmos.

Ele me confidenciou que não tinha nenhum interesse por mulheres na primeira festa em que fomos. Ele percebeu que eu olhava tanto para os homens quanto para as mulheres, mas ele só parecia interessado no que eu estava falando quando era sobre algum cara que passara por nós e tinha algum detalhe que lhe destacava no meio dos outros corpos estranhos. Foi bem natural ouvir dele que ele gostava de homens, mas que não tinha falado isso em voz alta até aquele momento.

Bem lá no fundo, ele não contara para ninguém com medo de seus pais descobrirem antes mesmo de ele entrar na faculdade. Ele nunca tivera certeza de como eles reagiriam. E ele não viu necessidade nenhuma de se assumir para eles depois de se formar no ensino médio.

Durante os anos da faculdade, eu fingi ser a namorada de Luca em alguns jantares que os pais dele insistiram para que ele lhes apresentasse alguém. E meu amigo nem precisou pedir duas vezes. Quando o questionavam para onde ele estava indo, ele sempre dizia que era para a minha casa, que ficaria comigo a noite toda. Mas ele me usava de álibi para sair e se divertir – tanto comigo como sem – e eu estava sempre pronta para encobri-lo.

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