Dangerous Races

CAPÍTULO VINTE E NOVE

Chicago aos poucos está voltando a transmitir a sensação de tranquilidade que eu tanto senti falta.

Entre dezenas de e-mails, textos e revisão de provas no ateliê de Harriette, eu consegui falar um pouco do meu trabalho – mas apenas das partes que envolvem as corridas. De como em Singapura, por causa de uma ótima estratégia de paradas e gerenciamento de pneus, Gael se recuperou numa corrida que estava fadada aos poucos pontos da sétima posição. Terceiro colocado era uma boa colocação para quem deve levar a disputa pelo título até os eventos finais, se nenhum imprevisto ocorrer.

– E agora as coisas estão mais tranquilas? – Heart pergunta do outro lado da bancada, concentrada nos pontos finais do bordado.

– Sim. Sem comentários dos outros jornalistas, sem olhares tortos, sem problemas maiores.

Minha irmã é uma ótima estilista e figura pública, mas ela pode ser um desastre quando se trata de lidar com a mídia, com e-mails sobre o discurso e a visão da marca. Ou seja, tudo o que não envolva a criatividade e máquinas de costura, se feito em excesso, pode acabar embolando o trabalho de Heart.

– Fico feliz que você esteja bem. E que ele não seja completamente um babaca. – Ela deixa a manga do casaco de lado e procura a outra, para repetir o que acabou de fazer.

– Agora eu percebo o quão babaca fui para tentar afastá-lo ou o que quer que eu tinha em minha mente – reflito, sem tirar os olhos da tela do notebook.

– É, as farpas que vocês trocavam eram cruéis. Principalmente as suas.

– Não era o meu melhor momento. Eu consegui o que queria no trabalho, mas isso me cobrou um preço enorme. Ainda bem que encontrei uma brecha na agenda para retomar a terapia.

– Fico feliz, Perrie, de verdade. – Ela sorri em minha direção. – Você vivendo em Atlanta não foi fácil para ninguém, inclusive para você. Mas é bom ter a minha irmã de volta.

– E não se esqueça que eu chego em Paris na segunda-feira de manhã, logo após cobrir a corrida em Mônaco. – Aproveito a chance para confirmar meu itinerário.

– Sim, não esqueci. Seu nome está na lista de nomes da minha pequena e singela equipe para meu primeiro desfile na Europa. – O orgulho faz seus olhos brilharem. – Espero que seja a oportunidade que eu precisava para trazer ainda mais holofotes para o meu trabalho e as causas que defendo.

– Vai dar tudo certo, eu tenho certeza. Mas vamos focar no agora. Além dos e-mails e da comunicação, no que mais você precisa da minha ajuda?

Estico meus braços e tento alongar as minhas costas. Estamos trabalhando desde as sete da manhã para darmos conta de tudo. Heart cuidando das roupas, eu cuidando da publicidade. Não paramos um minuto, e o almoço de hoje se resumiu em algumas frutas picadas com granola vegana.

– Eu mandei uma mensagem para o papai pedindo por comida. – Ela confere o celular, e logo volta para seu trabalho. – Ele ainda não respondeu, mas talvez o restaurante esteja um pouco cheio.

– Às duas da tarde?

– O salão dificilmente tem ficado vazio. Você viu se tem alguma coisa lá na geladeira?

– Só se apareceu por mágica. Quer saber? Preciso de uma pausa. Vou ali comprar duas saladas para nós, a gente come com o papai quando encerrarmos aqui, pode ser?

– Sim! Ai, Perrie, o que seria de mim sem você?

– Alguém precisa cuidar de você. Já volto!

Pego meu casaco, minha bolsa e sigo em direção ao restaurante que Heart tanto gosta. Meio que memorizei o pedido dela nos últimos dias, então sei que consigo dar conta de comprar a comida e voltar para o ateliê em tempo recorde. Poderíamos pedir a comida pelo celular? Poderíamos, mas eu preciso sair um pouco da frente do computador ou vou enlouquecer.