CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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Com o mundo em constante evolução, as equipes de corrida precisam se manter no páreo para conquistar troféus e mais admiradores fiéis. Buscam-se mais meios para conseguir a atenção do público por mais que um final de semana nas pistas. Os investimentos em mídias sociais e narrativas que envolvem o público se tornam cada vez mais comuns.

Porém, ainda há espaço para esbanjar alguns eventos patrocinados caríssimos apenas para amaciar o ego dos pilotos. Ou pelo menos é isso o que eu pensei do voo de Chicago até a Itália. O evento da equipe não tem muitos propósitos automobilísticos, a programação e o dossiê que eu recebi sobre indicam que seja algo voltado aos patrocinadores e aos fãs mais fanáticos.

De qualquer jeito, a nova assessora de relações públicas achou uma ótima ideia me chamar para cobrir o evento – uma parceria entre a USN e a Ferrari, claro – e disse que eles forneceriam equipamentos, equipes e cenários, eu só precisaria das pautas e de dois voos para chegar ao local. A data do evento conflitava com a minha folga? Sim, mas a USN disse que eu poderia folgar em outro momento e me mandou embarcar no avião na mesma hora.

Então aqui estou, na frente do espelho do meu quarto de hotel, com um blazer cinza, uma blusa azul e uma calça de alfaiataria – tudo feito por Heart –, terminando de ajeitar a minha maquiagem. É estranho pensar que eu estou aqui apenas para conduzir entrevistas e não preciso carregar meu equipamento por aí. Editar horas de material com um prazo extremamente curto? Não dessa vez, porque até isso eles ficarão responsáveis. Eu planejei as pautas, fiz as minhas pesquisas, esperei meu material ser aprovado por eles e agora só preciso cumprir com o meu papel.

Meu celular toca e interrompe a minha música favorita. Saio do banheiro e pego o aparelho na minha cama. Sorrio automaticamente quando vejo o nome do meu pai.

– Minha querida! – a voz meio distante e os ruídos de fundo entregam que meu pai está me ligando da cozinha do restaurante. – Como você está?

– Quase pronta para sair – confiro o papel onde anotei todos os horários que a assessoria me passou. – O que você está inventando de bom?

– Nada em particular, só estamos preparando as mise en place do serviço.

– Posso sentir o cheiro daqui. – Volto para o banheiro, aplico meu batom favorito e decido levá-lo comigo caso precise retocar. – Talvez eu não volte para Chicago depois que terminar aqui, a filial da USN na Inglaterra precisa de mim para coordenar um projeto de automobilismo.

– Tudo bem, querida. Tenha um bom evento, ok? Não deixe ninguém te estressar.

– Jamais. – Um alarme dispara no meu celular e eu me dou conta que preciso descer para o lobby do hotel. – Te ligo amanhã, ok? Beijos!

– Bom trabalho, filha!

Desligo e recolho tudo o que precisarei para a noite: anotações sobre o evento, pautas das entrevistas, maquiagem, bateria portátil, remédios para emergências, minha câmera com duas lentes caso eu decida tirar minhas próprias fotos. Coloco a câmera e o material para as entrevistas na minha bolsa, pego a pequena mala de rodinhas – que contèm roupas extras e um vestido mais formal caso solicitem, assim como o resto das minhas coisas –, deixo o meu quarto e entro no elevador. As portas de metal se abrem e encontro uma recepção tranquila.

– Senhorita Michelle! – Paolla, a assessora com quem estou trabalhando neste final de semana, acena e se afasta do balcão da recepção. – Que bom que você já está aqui! Tudo certo para hoje?

– Estou com tudo pronto. Espero que nenhum imprevisto ocorra.

– Se algo acontecer, nós temos algumas janelas de tempo sobrando. – O ritmo acelerado de seus passos não combina nada com seu sotaque italiano, dificultando o meu entendimento de suas palavras apressadas. Saímos do saguão e seguimos até um SUV preto. – Você já conhece a Marina, certo? Ela estará cuidando do Carpentier pelo resto da noite e da temporada.

Dangerous RacesWhere stories live. Discover now