CAPÍTULO TRINTA

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Ainda estou presa na noite de ontem, nas risadas e nas histórias contadas enquanto as cartas eram embaralhadas e os caça-níqueis eram acionados. Luca esteve ao meu lado na maior parte do tempo, garantindo que o assunto entre nós e os nossos colegas fosse leve e divertido.

Quando Gael passou acompanhado por homens em ternos caros e sapatos italianos, eu perdi o fio da conversa. Não apenas pelo charme e pela presença que ele provoca ao entrar em qualquer sala – todo mundo da nossa mesa se virou para encará-lo –, mas porque eu percebi que estava ignorando o que sentia.

Já que meu trabalho acontece na mesma velocidade em que os carros que fotografo, não há muito tempo para processar os sentimentos que desenvolvi entre uma conexão e outra. E se apaixonar já é uma tarefa que requer muitas coisas as quais eu não domino. Não é como se eu não me importasse, às vezes eu me importo demais. Com isso, cada palavra e gesto que eu troco com Gael, na frente do público ou entre quatro paredes, cria um sentimento de insegurança. Estou fazendo isso direito? Será que ele sente o mesmo? Nós nos falamos, mas todo mundo pode mentir. E, como eu aprendi em relacionamentos passados, certas pessoas detestam cobranças.

Vem sendo bem difícil balancear o trabalho e os meus sentimentos no meio de uma multidão. Porém, quando Gael me presenteia com um sorriso discreto ou flores, eu encontro forças para continuar. Em algum momento, a temporada vai acabar e eu não precisarei me preocupar em esconder nada disso.

Luca puxa meu braço antes que seja tarde demais e eu dê de cara com algum mecânico ou jornalista apressado.

– Você não está bem, Perrie – comenta ele, não em tom de crítica, mas de preocupação.

– Estou um pouco preocupada.

– Com ele?

– É. Eu... Você não sentiu algo estranho durante a entrevista não? Foi uma sessão bem esquisita. – Resisto ao impulso de tirar a câmera da bolsa e rever as imagens ali mesmo. – E nós sabemos bem como esta pista depende de onde você largar, das estratégias e da sorte.

– O que você sentiu, Perrie? Desculpa, eu estava muito concentrado nas perguntas e em fazer as anotações. – Luca me abraça de lado. – Você quer falar sobre isso depois de comprarmos uma pizza e deitarmos?

– Não, eu só precisava saber se ele vai ficar bem. – Tiro meu celular do bolso, mas repenso a minha ideia. – Por mensagem é muito impessoal?

– Posso distrair todo mundo e você vai atrás dele para conversar em particular. Um desmaio falso funcionaria? Se te perguntarem, eu não comi nada o dia todo e desmaiei por conta da glicose, ok?

– Não, Luca. Não precisa. – Agarro o braço dele. – Só me dê um minuto, eu acho que ele ainda está pelo paddock, vou fingir que esqueci de falar algo com a assessoria dele. Te encontro em dez minutos?

– Qualquer coisa me liga que eu atravesso esse lugar correndo mais que esses carros estúpidos – dispara ele.

Só consigo me afastar de Luca depois que ele beija a minha bochecha e ajeita o meu crachá de identificação. O sussurro de boa sorte dele me encoraja o bastante para que eu inspire confiança e finja que tenho algo a tratar com a equipe.

Monte Carlo está efervescente com os carros, turistas e celebridades. Ninguém consegue desgrudar os olhos da pista, o estreito e histórico circuito promete desafiar todos os pilotos, principalmente os que estão com as maiores pontuações. A apreensão foi severa quando Rambert teve problemas mecânicos, e Honan bateu de leve em uma barreira durante os treinos livres.

A classificação foi a parte que mais me deixou nervosa. Um erro e sua corrida poderia nem começar. Bem ao final, infelizmente, Gael bateu em uma barreira em sua última tentativa de melhorar o seu tempo e ficou com o quinto lugar. Não é ruim, mas também não é o melhor cenário para essa corrida.

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