CAPÍTULO DOZE

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Anunciam as posições de largada para a corrida pelos alto falantes do autódromo. Carpentier fica com a terceira posição, como eu apostei com Luca antes de começamos a cobertura da corrida de classificação.

Vibro e meu amigo aperta o nariz.

– Feliz pelo seu arqui-inimigo, Perrie?

– Triste porque perdeu cem dólares para mim, Anderson?

– Você nunca torceu para ele. Devo me preocupar? Há algo que você está me escondendo?

– Luca, se ele tiver um boa posição, não estará tão carrancudo assim quando eu entrar no box da Ferrari. – Desligo a minha câmera e fecho a lente com o protetor. – Anya mal pode esperar para amanhã, então você se comporte.

– Por que você não a leva para o box da Ferrari? Aposto que ela ajudaria com o Carpentier.

– Você sabe muito bem, seu invejoso, que só eu tenho autorização para entrar lá. – Guardo meu equipamento na mochila. – Não venha me perturbar hoje, Anderson. Se você e o Eric tiveram um problema, vocês que se resolvam. Eu não tomo mais parte nenhuma nas discussões de vocês.

Luca permanece no silêncio e guarda seu notebook sem me direcionar um olhar. Ele não tem o direito de descontar em mim, assim como eu não descontei nele quando toda essa merda aconteceu. Deixo o espaço da imprensa primeiro, passo pelo caminho mais longo até a entrada e respiro fundo.

Se eu me estressar com meu melhor amigo e parceiro de trabalho, o trabalho se torna um castigo. Se eu me estressar antes da entrevista, eu me posiciono exatamente onde Carpentier quer que eu fique e a bomba vai explodir bem na minha cara. Se eu me estressar...

Colido diretamente com um dos convidados que passeia pelos bastidores como se todos ao seu redor fossem uma atração para se assistir. Eu me desculpo e continuo andando, mais atenta ao meu caminho dessa vez. Luca não para de me mandar mensagens – não duvido que seja para saber onde estudou – e eu resolvo ignorá-lo.

Luca me manda uma última mensagem: ele está indo embora sem mim. Tudo bem, eu pago o meu próprio táxi para não ter que ouvi-lo resmungar sobre Eric. E a pessoa do outro lado dessa briga também me mandou mensagens, mas eu respondi da mesma forma que fiz com Luca: não tomo mais partido.

Espero a movimentação diminuir e encontro uma taxista que se surpreende quando eu digo para onde estou indo. Ela começa a puxar conversa e eu explico a ela meu trabalho – em qualquer lugar do mundo, taxistas de bom humor serão curiosos. Isabel é uma mulher de meia idade que viu os dois filhos partirem para trabalharem como advogados em Paris e sua paixão sempre foi conhecer o mundo. Na maior parte do tempo, ela é uma confeiteira de mão cheia, porém, durante a alta temporada e os eventos mundiais, ela abandona a cozinha para dirigir por aí, levando estranhos – que se tornam conhecidos – para onde eles devem estar.

E assim, o percurso que eu teria que fazer ignorando Luca, se torna agradável. Quando entramos em Marselha, eu me permito pensar na minha família. Enquanto eu viajo à trabalho, estou perdendo alguns momentos com meu pai e minha irmã que não voltarão: a primeira estrela Michelin foi concedida ao restaurante faz alguns dias e, sem medo do futuro, meu pai já está pensando em trabalhar para conquistar a segunda.

E Harriette não parou de executar as roupas para o Baile de Gala em nenhum momento desde que ligamos para ela. Entre uma reunião e outra, ela está em seu pequeno estúdio produzindo as peças e nos atualizando a cada novidade. E, claro, construindo o seu próprio império quando todos os seus professores na faculdade falaram que ela não conseguiria.

Alguns anos antes de entendermos que nossos sonhos não seriam tão simples de realizar, eu sempre encontrava pedaços de tecidos remendados na minha mesa depois de brincar de boneca com Heart. Ela unia as peças com fitas antes de aprender a usar uma agulha. Com o tempo, suas mãos ficaram ágeis e as roupas das bonecas foram deixadas de lado quando ela começou a personalizar sua mochila, depois os casacos e os shorts.

Dangerous RacesWhere stories live. Discover now