Capítulo 19

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O vilarejo estava barulhento e movimentado como sempre, no entanto, não eram risos, conversas amigáveis ao redor de uma fogueira em pleno dia para aquecer-se, muito menos os gritos das mãe com seus filhos desobedientes. Era o barulho de homens e mulheres se preparando para a guerra.

Era o barulho de comandos, o ressoar de metal e aço sendo forjados em armamentos, o tilintar de espadas sendo cruzadas enquanto alguns treinavam, o ranger do portão de aço sendo trancado, formando uma verdadeira fortaleza ao redor da vila.

A neve como sempre continuava caindo no Desert, porém isso não parou os Drak, jamais parava, somos filhos da deusa do gelo.

Estávamos perto dos muros da entrada, onde um grupo de homens transportavam arcos e flechas com pontas de gelo para o alto da muralha. A maior fraqueza das Yeborath era o gelo dos Drak, o poder sagrado da deusa Atali, e era somente por causa disso que nutríamos alguma esperança de vencê-la.

— Pelo que vejo tudo está correndo bem — o comandante Riagáin disse parando sua caminhada.

Minha mãe e meu primo se deteve ainda olhando para o muro coberto de neve, enquanto eu observava um grupo de guerreiros que passavam por nós — jovens demais para uma batalha. Deduzi que eram do sul, isso era típico de Mihangel, trazer crianças para a batalha.

— Garanto que eles são melhores do que muitos aqui — a voz de Minhagel chamou minha atenção.

Olhei para ele que me encarava com divertimento estampado no rosto, pisquei os olhos demonstrando desentendimento.

— Os garotos — ele respondeu minha pergunta não feita — eles são melhores que muitos aqui.

— Disso eu não duvido — respondi secamente. — Sei como são seus treinamentos.

— Você deveria me agradecer, caso contrario não seria a líder dos Drak — sorriu satisfeito.

— Obrigada por quase me matar — sibilei caminhando em direção onde minha mãe e Ettore conversavam. Apenas ouvi um riso de escárnio atrás de mim.

— Como estão os arqueiros? — perguntei ao meu primo.

— Preparados, ao anoitecer todos estarão em seus postos.

Ainda faltava dois dias para a lua está totalmente cheia, no entanto não queria que fossemos pegos de surpresa. Nada confirmava que ela atacaria somente na lua cheia ou durante a noite, precisávamos estar a postos.

— Minha legião também já está pronta para acampar na entrada da Fortaleza — minha mãe se manifestou.

Suas roupas haviam mudado, o vestido sempre ostentando cores escuras, agora havia sido substituído por uma calça de couro negro, uma bota da mesma cor, e um casaco que era parcialmente escondido pela pesada capa verde escuro que a protegia do frio. Conhecia minha mãe o suficiente para saber que por baixo da capa, havia inúmeras armas, e todas ela sabia usar com perfeição.

Desde nossa discussão ela tem falado menos do que o de costume, a não ser com o primo. Os dois sempre se entenderam, ambos compartilham dos mesmos pensamentos e idéias conservadoras.

— Ótimo — disse.

— E eu cuido do resto — Minhagel disse com o orgulho de um comandante.

— Você cuida de mantê-los aqui em baixo — disse contendo a vontade de falar mais do que o necessário.

Queríamos manter a luta na vila, ou pelo menos a maior parte dela.

— Será a maior batalha da historia — Ettore disse com certo divertimento de um garoto exibicionista.

Laços de Gelo e Sangue Where stories live. Discover now