Capítulo 2

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Não sei como, apenas sei, que em menos de segundos eu estava frente a frente com o rei de Morningh, meus punhos cerrados tentando conter meus poderes. Minha cabeça latejava, minha visão começando a ficar embaçada, minha garganta estava travada, como se um nó obstruísse minha respiração.

Conseguia sentir a magia fluindo em meu sangue, o latejar do poder em minhas veias. Minha boca secou, a ponta de minha língua estava dormente e gelada, assim como meus dedos. Cada instinto meu gritava comandos para que eu não explodisse.

O guarda de Morningh que não usava armadura, se posicionou na frente de seu rei tão rápido quanto eu desci ao seu encontro. Ele segurava a espada na mão direita, o metal refletindo na pouca luz que iluminava o ambiente. Seus olhos azuis — não como os do rei —, estavam concentrados em mim, talvez ele pense que pode proteger seu soberano contra minha ira.

Talvez, Howard e Bert pensem o mesmo, só que ao contrário, pois os dois estão ao meu lado agora, cada um com uma arma afiada em cada mão. Prontos para matar e morrer por mim.

Kian me encara com os olhos arregalados, e pela primeira vez, desde que ele pisou aqui, consigo ver medo em seu olhar. Posso sentir cada respiração pensada e calculada, tudo para tentar se manter calmo.

— Como ousa mentir para mim? — sibilei.

— Eu... eu, não menti — Kian respondeu nervoso. — Seu pai está vivo.

— Mentiroso — a voz de minha mãe ecoou na sala. — Você vem em nossa casa para zombar de minha família?! — ela vociferou.

— Não estou mentindo, eu...

— Você é um maldito Rein — ela continuou. Agora estava ao meu lado. — Vá embora daqui, antes que eu mesma o mate.

A tensão se instalou no local, o ar pareceu ficar mais pesado, e nem mesmo o vento gélido que entrava pelas janelas abertas, era capaz de tornar o ambiente menos caloroso — não no sentido bom da palavra. Minha mãe agora encarava o jovem monarca com ódio letal.

— Eu não estou mentindo — ele insistiu. — Eu não sou tolo em vir em seu território com mentiras e armações.

Respirei fundo buscando me controlar.

— Meu pai morreu em Acrab, não ouse perturbar sua memória com insinuações — disse o olhando. — Se você pensou que mentindo iria conseguir minha ajuda, está enganado. Vou dizer pela última vez, saia daqui, ou eu vou mandar sua cabeça de volta para Morningh.

— Majestade... — seu guarda começou, mas foi silenciado por um simples gesto de mãos do rei.

— Eu não estou mentindo — ele se voltou para mim. — Conan está vivo. E eu só vim aqui porque ele insistiu, ele disse que tínhamos que unir forças contra Meliha. Não pense que eu queria estar aqui.

— Meu marido nunca iria propôr algo assim — foi minha mãe quem o respondeu. — Atali, acabe logo com isso. Dê a ordem.

Dê a ordem... A frase ecoou em minha mente. Dê a ordem. Mande mata-lo, era isso que ela queria dizer com "dê a ordem".

Kian me olhou com temor, os dois guardas que o acompanhavam se posicionaram na defensiva. Porém, seu rei não se moveu, nem mesmo sua mão buscou o cabo da espada que ele carregava consigo.

Mas talvez eu quisesse acreditar na possibilidade de que ele pudesse estar vivo, pois nunca consegui aceitar sua morte. Talvez foi a completa ingenuidade e a esperança de uma filha tola que me fez ignorar o pedido de minha mãe, que me fez encarar aquele jovem rei, e lhe dar uma chance.

Laços de Gelo e Sangue Where stories live. Discover now