Capítulo 13

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A visão da ponte aqueceu meu coração, ao mesmo tempo que o fez disparar. O barulho dos cascos dos cavalos na madeira seguiam ao mesmo ritmo que meus batimentos acelerados, minha respiração se condensava no ar à minha frente, e os sorrisos de meus companheiros iluminavam a manhã cinzenta e fria.

Estávamos em casa... Estávamos no nosso deserto de neve.

Os muros que rodeavam nossa aldeia continuavam intactos, e me perguntei se eles seriam capazes de resistir a fúria do exército das bruxas Yeborath. O portão negro de ferro e aço foi aberto, revelando a visão mais acolhedora em dias tempestuosos.

Aquela era a minha casa. Minha fria e gelada casa.

Fui a primeira a adentrar em nosso vilarejo, e sorrisos calorosos estavam estampados no olhar de cada cidadão de nossa vila. As crianças corriam para acenar para os guerreiros que retornavam em segurança, os adultos comemoravam e quase batiam palmas de alegria.

Éramos um povo unido. E quando um Drak partia para a batalha a aldeia se entristecia, da mesma forma que se alegravam quando eles retornavam. Agora, eu deveria protege-los, pois o perigo viria até nós, era meu dever mantê-los seguros.

Bert e Howard seguiam ao meu lado a medida que guiávamos os cavalos na direção da casa forte, já a os demais, fora concedida a permissão de seguirem para suas casas. Queria que todos aproveitassem um pouco de paz, pois em poucos dias teríamos uma guerra.

A barulhenta recepção fora deixada para trás, a construção antiga e gigante que me esperava a poucos metros prometia estragar o meu dia. A Casa do Líder continuava igual. Desci de meu cavalo assim que chegamos no pátio da entrada. O garoto ruivo ainda permanecia em seu cargo, pois fora ele quem veio levar os cavalos para os estábulos.

Esperava uma recepção de minha mãe, várias perguntas, e principalmente um sorriso vitorioso ao ver que meu pai não retornara conosco. Olhei para o meu lado esquerdo, onde Bert e Howard aguardavam pacientes se eu entraria em casa ou permaneceria do lado de fora, onde a neve começava a cair.

Por breves segundos me lembrei dos dias quentes e ensolarados que tivemos.

Respirei fundo e entrei em minha casa, minhas pegadas permaneciam sobre a neve que cobria o chão do pátio.

Cruzei a porta da entrada, e como uma serpente traiçoeira ela estava na sala, ao pé da escada que levava ao segundo andar da casa. Um vestido azul escuro cobria seu corpo, seus cabelos negros estavam presos em um coque simples no alto da cabeça, em seus olhos escuros se encontrava um olhar morto.

Por breves segundos nos olhamos em silêncio, no entanto, seu olhar se direcionou para algo além de mim, para o que se encontrava atrás de Bert, Howard e eu, para o nada. Foi quando meu coração doeu, um sorriso triste e melancólico surgiu em seus lábios, e mesmo estando longe pude ver uma lagrima solitária rolar em sua bochecha e atingir o assoalho de madeira.

— Eu estava certa, não estava?! — em sua voz não havia sarcasmo ou triunfo.

— Sim. A senhora estava certa — disse por fim.

Ela limpou às lágrimas que ameaçavam surgir, ergueu o rosto, endireitou a postura... De repente a imagem da viúva desolada desaparecera, ela era uma comandante novamente, uma guerreira.

— E para o que devemos nos preparar agora? — sua voz saiu firme.

— Melina vem atrás do Pylar — respondi.

Toda a postura segura de minha mãe se desfez em segundos.

— Ela o quê? — sua voz foi apenas um sussurro em meio ao silêncio.

Laços de Gelo e Sangue Where stories live. Discover now