Nada nos impede

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Acordo com o rosto suando frio. Minhas mãos estão tremendo sem parar. Um vazio invade cada centímetro de meu peito. Preciso resolver as coisas. Preciso. Mas como?

Vejo que minhas malas estão ao lado da cama, bem debaixo da janela. Procuro meu celular e o relógio marca sete da manhã. Não ouço barulho algum vindo das outras partes da casa. Troco de roupa e saio do quarto, tomando cuidado para não fazer barulho algum. Ao chegar na porta da varanda, vejo que não estou sozinha. Ele está sentado de costas para mim, de modo que não vê quando me sento ao seu lado.

- Não sabia que você estava aqui - eu disse com a voz calma.

Paulo olhou para mim, mas não pareceu surpreso com a minha presença.

- Se você soubesse - ele desvia o olhar - não teria vindo até aqui.

Fico de cabeça baixa. Não sei se o que ele disse é verdade. Talvez eu viesse mesmo assim.

- Me desculpa por ontem, eu nem te agradeci - faço uma pausa até que ele volte a olhar nos meus olhos - obrigada - digo sorrindo.

Não é a coisa mais gratificatne que eu poderia dizer, mas tudo bem, ele retribiu o sorriso.

- Não precisa agradecer, Gabi. Parece que não importa o tempo que passe, eu sempre vou querer te proteger.

Meu coração fica apertado assim que ele diz isso. E me sinto a pior pessoa do mundo porque eu não mereço algo assim de alguém como ele. Eu não mereço! Lágrimas começam a querer escorrer, só que dessa vez eu não as impeço.

- Por que você está chorando? - diz ele, me abraçando de repente.

Não recuso o abraço. Pelo contrário, talvez o abraço dele seja tudo que eu mais preciso agora.

- Foi alguma coisa que eu disse? - pergunta ele.

- Não, foram todas as coisas que eu não te disse - respondo, enxugando as lágrimas.

Ele se afasta, e me encara. Seus olhos parecem ter adquirido um brilho tão lindo quanto o das estrelas.

- E o que foi que você não me disse?

- Que eu senti muito a sua falta, que eu não quero perder a sua amizade, que eu te devo a minha vida por ter me tirado da água quando eu escorreguei daquela pedra e que... - faço uma pausa pra escolher as palavras certas - você é muito importante pra mim.

 Depois de dizer isso, parece que tirei um peso de cinquenta quilos das minhas costas!

Mas ele não diz nada, apenas fica me olhando com aqueles olhos brilhantes.

- O que foi? - perguntei.

Ele suspira.

- Como é que eu vou fazer pra te esquecer depois de ouvir isso?

Não sei ao certo o motivo, mas isso está me lembrando o dia em que eu beijei o Nathan pela primeira vez. Não, eu não vou beijar o Paulo. Só preciso saber o que dizer agora sem magoá-lo. O que me parece impossível.

- Bom, talvez você não precise esquecer - eu disse.

- Me dê um motivo pra isso - ele pediu.

Hesito por um segundo antes de responder.

- Nada nos impede de sermos amigos - digo sorrindo.

- E o que eu sinto por você, não conta?

My Best MistakeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora