— Um navio pirata, pronto para atacar — respondeu Nadine.
Henrique tirou uma mecha de cabelo molhada do rosto e apurou sua visão. Em algum ponto distante, um barco pesqueiro desafiava a tempestade que se formava. Mais à frente, um enorme cargueiro cruzava o horizonte. Não havia nenhum sinal de piratas.
— Não entendo porque não podemos voltar e tentar convencer Elisa a vir conosco.
— Porque seria uma tarefa inútil. Elisa tem um forte senso de responsabilidade com a mãe e o irmão, nada do que pudéssemos falar a convenceria a voltar para a ilha.
— Ainda assim, apenas deixá-la aqui não parece certo... — Henrique parou de falar por um momento, uma sombra de rancor passando por seu semblante. — Você acha que Rafael teve alguma influência sobre isso?
Nadine o olhou com simpatia.
— Tenho certeza que não. Elisa não seria tão superficial assim.
Henrique cerrou os punhos, sentindo um gosto amargo na boca.
— Mas se eles saíram juntos...
Ela tocou em seu braço delicadamente, fazendo-o encará-la, confuso. Henrique não sabia que a pirata-bruxa era capaz de gestos delicados.
— Fique calmo. Elisa não me contou nada sobre isso, mas tenho um palpite de que as coisas não saíram muito bem entre eles.
— Por que acha isso?
— Ora, Elisa estava sozinha no hospital quando o avô morreu. Não tenho experiência em encontros românticos, mas era de se esperar que ele a deixasse em casa depois disso. É muito estranho que ele a tenha deixado lá, sozinha. E depois, Elisa não tocou no nome dele uma única vez sequer, nem tentou avisá-lo do que aconteceu. É como se ela quisesse fingir que o encontro com Rafael nunca existiu.
As palavras de Nadine o tranquilizaram, mas qualquer resposta ficou perdida no ar. Oliver, que tinha se afastado para explorar o local, voltava correndo, de bochechas coradas.
— Ei, pessoal, vocês precisam ver isso!
Eles correram a tempo de ver um grande navio fincar suas tábuas nas areias molhadas da praia e dezenas de piratas muito bem armados começaram a descer, não se importando com a chuva que os encharcava. Tinham uma expressão faminta no rosto.
Àquela altura, a praia já estava quase que completamente vazia, mas uma família retardatária aproximou-se com curiosidade. Talvez pensassem que se tratava de algum tipo de atração turística. O pirata que parecia ser o líder deles deu um passo à frente, sacando sua pistola e atirando aos pés do pai para afastá-los. A mãe gritou em desespero, abraçando as crianças protetoramente.
— Cai fora! — demandou o pirata, encarando-os com selvageria.
A família apressou-se em sair dali aos tropeços, ainda muito assustados para registrar o que acabava de acontecer.
Henrique engoliu em seco, olhando com preocupação para as suas parcas armas.
— Eles são muitos. Nunca conseguiremos vencê-los com isso.
☠☠☠
O velório não durou muito. Como Elisa não tinha mais nenhuma família na cidade, poucas pessoas compareceram, a maioria conhecidos do seu avô e antigos colegas de trabalho. Estender demais seria apenas prolongar o sofrimento.
Um padre apareceu para rezar o terço e dizer as palavras finais para que a alma descansasse em paz, e logo após o corpo foi levado para o enterro. Elisa passou por tudo isso no piloto automático, como se tivesse tomado uma grande dose de anestesia. Sua mãe ainda parecia péssima, e até mesmo Beto estava pálido e abatido. Assim que chegaram ao cemitério e desceram do carro, o garoto cambaleou para frente, e Elisa teve que segurá-lo pelos ombros para que firmasse no chão.
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Libertália: Raízes Piratas
Fantasia🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Pequenos Girassóis 🥇 1° lugar em fantasia no concurso Mistérios da Índia do D&T 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Deuses Gregos 🥇 1º lugar em...
☠ XIX - Resolução ☠
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