☠ XIX - Resolução ☠

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— Elisa, eu sinto muito pelo seu avô.

Era Henrique. Estava vestido com uma calça jeans preta e camiseta cinza simples. A velha jaqueta fora abandonada, deixando à mostra sua tatuagem. Seus olhos brilhavam intensamente quando ele a abraçou, envolvendo-a em seus braços.

Elisa não tinha forças para se desvencilhar daquele abraço, e nem queria. Deixou-se confortar por ele, afundando o rosto em seu ombro. Seus braços eram quentes e a afagavam com delicadeza.

— Obrigada — disse ela em voz abafada. Novas lágrimas rolaram por sua face.

— Já podemos ir? — sua mãe chamou de dentro.

Elisa afastou-se de Henrique, limpando apressadamente as lágrimas de seu rosto. Todos aguardavam no hall com expressões sérias, mas foi Nadine quem quebrou o silêncio primeiro.

— Oliver e eu estamos partindo com Henrique — ela disse, dirigindo-se à mãe ao invés de Elisa. — Eu sinto muito, mas não podemos ficar mais.

— Oh, que pena... Voltem mais vezes, iremos adorar tê-los aqui de novo.

Nadine conseguiu sorrir.

— Eu agradeço pela hospitalidade. Gostaria de poder retribuir, mas não há tempo. Vamos, Oliver...

O menino virou-se para o novo amigo com tristeza.

— Tchau então.

— Ei, quando você voltar aqui, vou acabar com a sua raça no Counter-Strike.

Oliver riu com desdém, mas a mãe de Elisa franziu a testa, preocupada.

— Não sei se esse jogo é indicado para crianças.

Após uma breve despedida desajeitada, Elisa levou os três para a área de fora do prédio. Henrique continuava a olhá-la com aquele olhar desconcertante de cachorro abandonado.

— Você não vem mesmo? Nós podíamos esperá-la...

— Não podemos — cortou Nadine friamente. — Não temos tempo, os piratas já começaram a chegar. Aliás, já estamos atrasados.

Elisa olhou para ela com raiva. Estava satisfeita em poder se concentrar em algo além do olhar suplicante de Henrique.

— Nadine está certa, vocês devem partir sem mim. A minha missão é aqui, com a minha família.

Nadine quase teve que arrastá-lo, mas no fim eles partiram. Elisa suspirou assim que se viu sozinha, o peito pesando como chumbo. Suas pernas bambearam, quase fazendo-a desmoronar ali mesmo, na rua. Então uma mão pousou em seu ombro.

— Eles são bons amigos — disse sua mãe, tentando soar reconfortante.

Os olhos de Elisa perderam-se no horizonte cinzento. Algumas gotas de chuva começavam a cair, o que era conveniente para disfarçar suas lágrimas.

— Eles não são meus amigos — sussurrou consigo mesma.


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— E então? O que estamos procurando? — disse Henrique pela quinta vez.

A chuva começava a engrossar, espantando os poucos banhistas que se aventuravam pela praia. O mar a sua frente parecia agitado e deserto, mas eles continuaram andando, as armas prontas para serem sacadas a qualquer instante. Nadine tinha sua velha espada de combate e Henrique arranjara uma também na coleção de bugigangas antigas de sua família. Apesar do tempo, sua lâmina estava bem conservada. Até Oliver levava uma adaga, que ganhara de seu pai. Naturalmente, armar crianças não era um problema para pais piratas.

Libertália: Raízes PiratasWhere stories live. Discover now