Melius - Cidade Dos Corvos

CHAPTER XIX: I've Been Thinking Too Much

| L A N A |
14 de agosto de 2017

UM TÍMIDO CHUVISCAR NOS ALCANÇOU antes que pudéssemos chegar à escola. Esme e eu nos separamos no estacionamento, quando ela partiu em direção aos dois carros que possivelmente ainda eram ocupados pelas outras bruxas que a aguardavam, e eu adentrei no prédio no modo automático, sem conseguir prestar atenção no que me rodeava durante o trajeto. Eu havia escolhido me juntar aos outros, considerando que era a decisão mais lógica depois das últimas informações, mas uma grande parte de mim ainda via dificuldade em aceitar que aquela era a única opção viável.

Naquele instante, senti a estranha necessidade de estar sob os raios solares por alguns minutos, onde quer que eu os achasse, mas tentar encontrar pedaços de paz na paz mental que o sol proporcionava era irritantemente complicado em Corbeaux. Àquela altura, meu fim parecia cada vez mais próximo, e eu gostaria de ao menos sentir o calor sobre minha pele uma última vez, visto que a sensação de ser real era algo que as nuvens se empenhavam em dificultar.

Sim, eu costumava pensar muito sobre o fim, mas era divertido fantasiar. Acho que o motivo pelo qual eu analisava demais as situações era porque tinha medo do que aconteceria se não estivesse preparada. Algumas surpresas do universo poderiam ser bem desagradáveis sem algumas horas de prévio ponderamento sobre as consequências. Era loucura, mas meus pensamentos não desligavam fácil. A realidade parecia tão perto e tão distante ao mesmo tempo.

Assim que cheguei à sala de aula, Sarah sinalizou de um canto no fundo, indicando o lugar que havia guardado para mim. Ela escrevia algo em seu caderno, alternando o olhar entre um livro de geografia que segurava em uma das mãos. Naquele dia ela pareceu um pouco mais produzida do que o comum, usando sua jaqueta de couro da Schiaparelli e jeans novos. Parte de suas tranças estava presa em um coque alto acima da cabeça, enquanto a outra metade caía por trás dos ombros.

— Ei, Vagisil — ela saudou quando me aproximei, sem tirar os olhos do livro de geografia.

— Bom dia, Monistat.

— A convenção das bruxas ainda não começou.

— Tive uma conversa bizarra com Esme Montreux há alguns minutos. Preciso falar com você em particular.

— Pode ser depois? Estou precisando urgentemente da sua ajuda. "Indique uma solução para o problema da superpopulação mundial".

— Tudo bem, o que você respondeu?

— Organizar os primeiros Jogos Vorazes.

— Espera, esse não é o trabalho que precisamos entregar em, tipo, meia hora?

— Sim, mas não consegui fazer antes porque estava ocupada demais tendo crises existenciais e passando meu tempo em uma cabana assustadora com bruxas intergalácticas — havia ironia em sua voz.