CHAPTER XXV: No Tears Left To Cry

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| L A N A |
15 de agosto de 2017

A TÊNUE BRISA FRIA DAQUELE LUGAR me foi estranhamente deleitável, acariciando meu rosto como um beijo de boas-vindas

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A TÊNUE BRISA FRIA DAQUELE LUGAR me foi estranhamente deleitável, acariciando meu rosto como um beijo de boas-vindas. Um zumbido familiar farfalhava por entre as árvores ao redor da clareira, acompanhando uma melodia amena que podia-se ouvir mais ao longe. Eu sabia que era apenas um sonho, mas não pude deixar de ficar fascinada.

Estava no que aparentava ser um campo de lavandas, o qual possuía o diâmetro muito superior ao de um campo de futebol, cercado por imensos pinheiros singulares que podiam ser vistos no horizonte. Tudo se encontrava em tons de cinza, inclusive o céu, coberto por nuvens de aparência enfadonha, as quais clareavam nitidamente toda a atmosfera ao meu redor. Havia água na altura do calcanhar, retardando meus passos, e as lavandas cinzentas emanavam um odor adocicado, a ponto de fazer meus olhos lacrimejarem.

Em um dado momento, a melodia distante assumiu a forma de um choro delicado, seguido por falas de desconsolo que dificilmente pude decifrar. Foi como ouvir centenas de sussurros de uma só vez, como se o vento lamentasse uma perda. Não me surpreendi quando, a uma certa distância, pude vislumbrar minha velha conhecida: a figura de luz que outras vezes me visitara em sonhos.

Desta vez, a mulher parecia bem mais real do que eu me lembrava. Não era mais uma figura de luz, e sim, um ser de carne e osso. Ela estava de costas, ajoelhada aos pés de uma enorme estátua de mármore que possuía a forma de uma figura feminina. A dama misteriosa vestia a mesma túnica cinza, e seus longos cabelos escuros serpenteavam em ondulações impecáveis até o nível da cintura. Como nas outras vezes, não pude ver seu rosto, mas suas palavras ecoaram em minha mente como uma canção de angústia.

— Me perdoe, eu sinto muito — ela chorava para a estátua, ainda não notando minha presença. — Deveríamos ter te escutado... Eu deveria ter te escutado. Viverei uma eternidade de arrependimento por não ter feito mais. 

Me mantive a uma boa distância, mas pude ouvir suas palavras em alto e bom som, quase como se estivessem sendo ditas dentro de mim. Havia uma pequena quantidade de corvos acompanhando a mulher, alguns sobre a estátua e poucos repousando no chão, próximos de si. As pequenas criaturas pareciam acompanhá-la em seu choro, como se também estivessem de luto.

— As outras dizem que tudo acabará logo — ela continuou —, mas como isso pode nos confortar se você não estará aqui quando esse pesadelo chegar ao fim?

Um miado inesperado logo à minha esquerda me causou um espanto comicamente desestabilizante. Baixei meu olhar para a criatura rechonchuda de pelagem negra que repousava ao meu lado, e, por algum motivo, não me surpreendi ao ver aquele gato novamente. Esme dissera seu nome uma vez. Khaos. A criatura observava a cena atentamente, não como se também estivesse de luto, como a dama e os corvos, mas sim, entediado. Seus olhos intensamente brancos brilhavam em meio às lavandas cinzentas, e algo me dizia que ele sabia exatamente o que estava acontecendo. 

Melius - Cidade Dos CorvosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora