Eu já me imaginei presa em algum lugar. Mas não porque roubei alguma coisa, disso eu acredito que nunca vou precisar. Acho que dizer que foi presa após uma noite só de loucuras seria algo além do meu comportamento de menina dia pós dia. Digo, meu pai me obrigou a ir no psicólogo para entender esse meu jeito vingativo, rancoroso e raivoso. Não era problema de raiva, nem hiperatividade, eu estava normal. Então, é algo meu. Por isso, acredito que eu nunca ouso em fazer algo a mais. Porque ameaçar colocar fogo em alguém e tirar a sobrancelha de uma retardada está no meu padrão de normal.
Sei que passa dos vinte e cinco minutos desde que liguei para Noah. A única garantia de que eu sei que ele virá, é o evento elegante que ele me convenceu a ir. Kalel e Jane devem ter ficado felizes da minha confirmação, creio eu. Nós todos temos um carinho muito grande um pelo o outro.
— Ei! — levanto a cabeça. — A fiança já foi paga, você pode ir agora.
— Finalmente! — tomo impulso com receio de tocar as mãos no chão. — Aqui. Comprem uma vassoura decente para esse lugar.
Coloco uma nota de dez do fundo da calça na mão da mulher. Não que eu pensasse que ela iria usar para o que eu estava oferecendo, mas não faria nenhum mal.
Noah está na porta da delegacia do shopping. Se ele demorasse mais, eu poderia ir para uma delegacia de verdade e eu o mataria por isso.
— Não me vem com essa cara, pelo menos eu estou aqui. — Noah logo já se defende. Ele puxa as mangas da sua blusa de frio e me olha com repulsa, como sempre.
— Meia hora, Noah. Onde você estava?
— Do outro lado da cidade. — ele vai andando na frente e eu aperto os passos para acompanhar, estando no tamanco que encaixa nos meus pés direitinho.
— Por quê?
— Não é da sua conta. — eu esperava algo assim antes mesmo de perguntar. — A policial disse que você foi pega com um brinco na bolsa. Desde quando é cleptomaníaca?
— Eu encontrei a Samantha no vestiário. Ela enfiou o brinco dentro da minha bolsa e eu não vi. Francamente, eu vou passar uma máquina no cabelo daquela ruiva nojenta. — é eminente o quão brava eu estou, e por isso Noah desacelera os passos e fica do meu lado. — Qual você passa aqui? — passo a unha atrás da sua cabeça, onde ele claramente passou alguma máquina no corte novo e deixou o topete na parte da frente.
— Você sabe que eu nunca digo “não" para uma boa vingança. Mas você já raspou a sobrancelha dela, vai acabar se dando mal por deixá-la careca.
— Eu acho que está na moda.
Ele não diz mais nada, e eu decido que a melhor decisão é seguir o que ele sugeriu. Porém, eu não deixaria isso barato. Isso não.
[...]
Não há ninguém em casa. Esse é o maior perigo pra mim, mas sinceramente me alivia, porque a minha casa não é muito grande e eu sempre estou indo até o quarto da Charlie pegar algo emprestado, ou dando uma volta na casa para achar alguma coisa que deixei largado.
E eu não tenho saltos. Enquanto procuro por algum, deixo a prancha e o babyliss ligados para ir até o quarto da minha irmã. Ele é todo organizado e as cores são escuras pelo papel de parede azul. Abro o seu closet, procurando por algum salto que combine com o tecido branco que eu encontrei. Sem ser sensual demais ou muito piranha de avenida, como eu costumo me vestir em festas. Algo casual o suficiente.
Eu encontro pouco tempo depois. Levanto-me do chão gelado. Minha coluna dói, porque não uso nada além de calcinha e sutiã. Eu só estou atrasada demais para quem não vestiu nada ainda.
