Capítulo 25 - Lídia Woods

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Vejo quando a escuridão da noite se perde e a claridade do dia aparece. O dia fica cinza, chuvoso, parece espelhar minha dor e fico assim até que eu precise levantar. Mas... Só de pensar em encarar uma viagem longa na frente de tanta gente, em encontrar meus pais nesse estado e dizer tudo e depois precisar voltar porque tenho um plantão em alguns dias... Eu desisto antes mesmo de sair da cama e volto a me esconder debaixo da coberta.

Encaro o teto descascando do quarto simples e me lembro de todos os planos que fizemos. De todas as palavras que dissemos. Os atos, os toques, os olhares... Foi tudo mentira? Ele pensava que eu queria seu dinheiro desde o início, é isso? Só porque eu gosto de carros? Ele não conheceu meu pai e toda a história por trás disso? Ele pensa que eu queria seu dinheiro e sua fama? Ele sabe o quão difícil foi para mim deixar minha privacidade ser invadida apenas porque estava ao lado dele? Ele não sabe quem eu realmente sou depois de todos esses meses juntos? Só porque eu não quero ultrapassar nenhum estágio que vamos percorrer?

Eu toco minha barriga e respiro fundo. Eu quero ser mãe, não desesperadamente como ele quer ser pai mas com calma, daqui uns anos, e o Noah age como se eu fosse uma interesseira que só pensasse em dinheiro. Não deveria ser o contrário, se eu pensasse só no dinheiro dele não deveria ter engravidado na primeira oportunidade que tive? Eu quero filho, filhos com a cara linda daquele idiota, que me farão passar tanta raiva quanto ele me faz, mas não conversado isso no meio da noite, depois que ele bebeu horrores e passamos por tanta confusão quanto passamos hoje.

Só de pensar nisso eu sinto um enjôo e corro para o banheiro do quarto. Coloco tudo que bebi para fora e mais lágrimas também. Fico ali, sentada no chão do banheiro, abraçada no vaso sanitário e chorando por ter meu coração partido tão forte que não sei se um dia serei capaz de juntá-los outra vez. E me odeio também porque só queria que o Noah estivesse aqui.

É louco pensar que é para ele que queria correr nesse momento, para seus braços amorosos e acolhedores. Eu só queria saber se essa pessoa que me tratou tão mal é o Noah de verdade e quem ele era comigo era apenas uma atuação. É possível alguém atuar tão bem daquele jeito?

Outra noite começa, depois mais um dia e, quando me corpo reclama a falta de sal no organismo, me obrigo a levantar e ir até uma lanchonete ao lado do hotel. Para minha surpresa o carro de seguranças do Noah ainda está lá e eu até consigo ver o Jones atrás do volante.

Me escondo e penso no que vou fazer para despistar eles. Eu não quero que o Noah saiba de mim, na verdade ele pode morrer de preocupação que não vou me importar. Não vou. Nem um pouco.

— A senhora está bem? - a garçonete me pergunta e eu afirmo saindo do meu esconderijo e voltando para o hotel

Ligo para emergência e falo sobre um carro suspeito no outro lado da rua. Sim, é errado e eu me sinto horrível por isso, mas é a única saída que encontro. Arrumo minhas coisas, pago os dias que fiquei e espero a polícia chegar para entrar num táxi e deixar tudo isso para trás. E assim acontece.

O taxista até estranha quando peço para me deixar num hotel de beira de estrada. Não é tão bom quanto o outro mas o Noah nunca imaginaria que eu viria para cá e eu só quero um lugar para deitar e esquecer tudo.

O lugar fede a cigarro, tem a tinta descascando por toda a fachada e parece sujo mas o quarto não é tão ruim assim. A recepcionista tatuada e cheia de piercings me sorri e pergunta se estou bem, talvez o meu estado esteja realmente sendo digno de pena.

— Estou bem, obrigada. - ela diz que posso chamá-la se precisar mas eu só quero vomitar outra vez

O natal chega, o ano novo também e eu me mantenho dentro do quarto trancada, fingindo que não tenho outra vida fora daqui. Vejo os fogos pela janela, a neve volta a cair e nada disso me atrai. Tifanny, a recepcionista, vem três vezes ao dia ver se ainda estou viva. Ela trás comida as vezes mas tudo me faz vomitar.

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