2.

641 97 2
                                    


E aí eu finalmente comecei a ficar bêbado, mas não o suficiente pra sentir toda a embriaguez porque o café da manhã do resort estava protegendo meu corpo dos efeitos do álcool. Não resisti à sonolência que foi me tomando e fui para o meu quarto. Dormi o resto da manhã e a tarde inteiras e quando acordei já era noite. Tomei banho, me vesti e fui jantar. Eu tinha um pouco de fome mas estava indo mais para me distrair. Eu jurei que ia seguir com a minha vida normalmente depois daquele fim de semana prolongado ali. Estava hospedado no resort com o objetivo de parar de pensar em Jimin e ficar no quarto não ia ajudar. Eu já estava pensando nele só de pensar em não pensar, eu sei! Mas era o que dava pra eu fazer. Então eu desci e me sentei numa mesa do restaurante onde eu podia ver o movimento do hotel sem ser muito visto. E claro, não caí no erro de pedir um Miami Vice, que parecia ser o que todo mundo ali bebia. Segui o conselho do meu breve amigo da manhã: Pedi uísque ao garçon.

Enquanto eu jantava sozinho, eu fiquei pensando sobre como estava melhor sem Jimin. A gente se amava muito, mas ele queria uma coisa e eu outra e andando juntos, cada um puxava a direção do carro pra um lado e a gente ficava no mesmo lugar. Eu sabia que ia doer recomeçar sem ele, eu sabia que ia me dar trabalho e ia me tomar tempo, mas eu sabia também que era o melhor pra nós dois. E além disso, a minha mãe já tinha me dito que não ia dar certo se o Jimin não era mesmo a minha alma-gêmea. Eu já sabia disso, é claro. Eu soube desde o primeiro momento que o coração dele não batia por mim, mas... eu quis arriscar, achando que eu podia desafiar essa determinação que eu conhecia tão bem.

Depois que mesmo noivos minha mãe ainda me via triste e insatisfeito com a relação porque o Jimin não queria casar e não queria os filhos que eu tanto queria. Então ela me contou que quando foi abraçar o noivo do filho dela, viu a alma gêmea dele: um homem alto, com um narizinho delicado e lábios cheios, uma pinta debaixo do lábio inferior e covinhas. Não tinha nada a ver comigo. Eu já sabia, já tinha visto aquele homem destinado a Jimin também. Inicialmente eu fui teimoso, como eu já estava sendo só de insistir em amar Jimin mesmo sabendo que o coração dele não me reconhecia. Minha mãe falou sobre a experiência dela em ver o dono do coração dos outros, como ela gostava de descrever esse dom da nossa família, e ela disse que eu podia até teimar em ficar com o Jimin, mas quando o dono do coração dele chegasse, ia ser muito difícil ele não se entregar, porque o coração sabe o que quer e costuma ser coisa diferente do que a cabeça sabe que é o certo.

Por algum tempo eu insisti. Mesmo se eu não fosse a outra metade dele, ainda podia valer a pena. Ao contrário da minha mãe, eu já tinha visto alguns casais que eram pra ser almas-gêmeas sendo incompatíveis na realidade e algumas pessoas que tinham outros pares escolhendo ficar juntos e sendo felizes. Até pra quem é alma-gêmea e escolhe ficar junto pode ser difícil, você não acha? Sei lá, eu acreditei que ia dar pra insistir, mas toda vez que eu falava nos filhos o Jimin desviava do assunto, ele não queria nem marcar uma data pra gente se casar, e as palavras da minha mãe ficavam se repetindo na minha cabeça. Talvez estivesse ficando tão doloroso continuar com as nossas diferenças porque realmente o coração dele não era meu. E eu não sabia a quem o meu coração pertencia, as pessoas da mesma família com esse dom não podiam ver os destinados um do outro.

Pois eu estava pensando se algum dia o meu ex-noivo ia conseguir encontrar aquele homem que eu vi e se estar com a alma-gêmea dele bastaria pra ele ser feliz. Nós não seguiríamos tentando ser felizes juntos, mas eu esperava que ele pudesse ser feliz sem mim. Doía estar longe dele, mas eu queria muito que ele encontrasse a felicidade, seja lá como for. E eu lutaria para encontrar a minha. E é por isso que eu quis viajar assim que terminamos. Eu precisava fugir da rotina onde a falta dele era evidente, pra depois eu voltar e recomeçar renovado. Já curado daquela dor, eu ia seguir em frente porque eu sabia que o Jimin faria aquilo com muita tranquilidade. E se eu quisesse realmente os filhos que eu tanto sonhava, precisava pensar o que fazer. Adotar crianças sozinho? Ou esperar um parceiro ou parceira pra me acompanhar nessa? Eu já estava pronto pra namorar de novo só porque queria ter filhos enquanto era jovem e tinha disposição pros cuidados que as crianças demandam? Eu achava que depois de uns dias bebendo sem pensar muito em Jimin eu estaria pronto pra responder essas perguntas.

Mas antes que eu me enveredasse por aqueles pensamentos meu fluxo de ideias foi interrompido por um casal familiar se sentando à mesa junto comigo, pondo um fim na solidão da minha refeição.

Eles já estavam um pouco bêbados, como eu gostaria de estar em breve. Yoongi segurava um copo de uísque e uma garrafa da bebida, Hobi trazia um copo de Miami Vice. E eu ainda estava são, então me juntei ao uísque que Yoongi me ofereceu com um gesto antes de dar início a uma conversa propriamente dita. Depois que a gente se cumprimentou, os dois me sugeriram que eu fosse à uma festa com eles e pelo tom piedoso dos dois, parecia que tinham conversado sobre mim e agora não queriam me deixar sozinho. Eu acho até que o Hobi parecia estar arrependido pelo jeito que me tratou de manhã e naquele momento ele queria me bajular pra compensar. Era desconfortável.

-Eu estou bem sozinho, acho que não estou muito a fim de festa hoje. - eu respondi, esperando que eles fossem me entender e esperando que fossem parar de agir daquele jeito.

-Tae - foi o Hobi que encostou na minha mão com aquela intimidade que parecia até natural, olhou nos meus olhos e insistiu - vai ser divertido!

-A gente não fala inglês nem espanhol, queremos conversar com mais alguém!

-Vocês estão em lua de mel - eu argumentei, já començando a achar estranho - vocês não querem ficar... sozinhos?

-A gente namora a 10 anos - Yoongi rebateu - e moramos juntos a oito anos. Só oficializamos agora mas a gente meio que já estava casado. A gente já passou tempo sozinho suficiente!

Hoseok saiu do lado do marido e se sentou na cadeira vazia do meu lado.

-Desculpa, Taehyung. P Gi me contou sua história porque achou que eu fui um pouco rude com você e eu concordo. - ele pegou na minha mão de novo e me olhou nos olhos, e aí eu fiquei todo mole mas ao mesmo tempo nervoso porque o Yoongi estava olhando pra gente. Eu podia mesmo me sentir tão a vontade com o marido dos outros? - Não foi minha intenção e a gente nem quer se intrometer também. Você pode ficar sozinho se quiser, é sério! Mas achamos que ia ser melhor se não ficasse.

O olhar dele era muito cuidadoso e gentil e Yoongi apoiava a fala dele com um olhar encorajador. Depois que eu sorri ele reforçou o apoio ao que o marido tinha dito:

-Somos gente boa, prometo. E eu vou te acompanhar no uísque, pelo menos enquanto eu der conta. Não tenho mágoas pra afogar agora, mas já estive no seu lugar e te entendo.

O coração sabe o que quer - VHOPEWhere stories live. Discover now