2 || Happy new year!

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Depois de guardar a lâmina, o meu corpo deixa-se cair no chão como um farrapo velho. Demasiado exausta para me levantar, deixo-me ficar aqui deitada no tapete a chorar e a lastimar aquilo a que tenho o desprazer de chamar minha vida. A minha porta está trancada para não correr o risco de ser incomodada.

**

Acordo com uma dor de costas horrível e o pescoço completamente dorido. Estou toda partida. Mal consigo esticar a pele da minha face devido às lágrimas salgadas que acabaram por secar. Mal consigo abrir os olhos. Estou lastimável. Adormeci no tapete. A chorar. Os meus braços têm sangue seco e já se formaram as crustas. Antes não tivesse acordado. De facto, não me resta um pingo de autorrespeito, autoestima, o que quer que seja, só esta vergonha e este ódio por mim mesma. Sinto cada vez mais vontade de me magoar, de me castigar por ser assim.

Olho para o relógio. 5:42 am

Demasiado cedo. Vou pé ante pá à casa de banho, de modo a não acordar a minha mãe. Lavo a cara e os braços. Faço um rabo de cavalo alto e todo desajeitado. Volto para o quarto. Visto o meu pijama mais quente e largo que tenho e deito-me na cama. Não tenho sono. Ligo o computador e vejo uns episódios das minhas séries favoritas.

Volto a olhar para o relógio. 8:53 am

Nisto, ouço baterem à porta. Certifico-me de que as mangas do meu pijama cinzento cobrem os meus braços. É a minha mãe com um sorriso no rosto.

-Beatrice, já acordada?-ela diz, enquanto se senta ao fundo da cama e me acaricia as pernas-Hoje descobri uma surpresa à porta de casa e é para ti.

-A sério? Mais uma?-sorrio-Mas de quem foi?

-Eu não sei..anda descobrir.-ela diz, com um ar misterioso.

Levanto-me, visto o robe, calço as minhas pantufas e desço as escadas. Quando chego cá fora, surpreendo-me com um cãozinho pequenino de cor caramelo preso pela coleira ao pilar da varanda. Oh meu Deus, que coisa mais fofa.

-Ele é meu, mãe? Quem é que mo deu?-pergunto, com um sorriso na cara, acariciando aquilo que me parece um poodle toy. O pelo dele é tão fofinho que parece um peluche.

-Ele trazia isto agarrado à coleira. -ela diz, estendendo-me um pequeno envelope.

Abro-o e leio o que lá está escrito, surpreendendo-me logo de seguida.

“Feliz Natal, Beatrice. Espero que gostes e que o trates com muito carinho. Ele merece uma dona dedicada como tu. Dos teus pais que te adoram muito.”

-Uou, desta é que eu não estava nada à espera!-digo, rindo-me. A minha mãe sorri.

-Fomos queridos, não fomos?-ela pergunta.

-Sim, muito. Muito obrigada, a sério. Este cão vai ser muito mimado por mim, acredita. -sorrio-Mas onde está o pai? Queria agradecer-lhe também . -a minha mãe entristece.

-Tu sabes como é o teu pai. Teve de ir trabalhar.

-Trabalhar no dia de Natal?!-digo, de modo frustrado, apesar de para mim ser mais natal no dia 24 do que no dia 25. Mas não me admira nada. O meu pai sempre foi assim.

-A fábrica não para, querida. Por favor, tenta compreender.

-Tanto me faz, mãe. Se falares com ele, agradece-lhe por mim.

-Vais dar-lhe um nome?- a minha mãe pergunta. Sempre quis ter um destes cães pequeninos que não crescem mais que isto e já tenho um nome para ele.

-Sim, mãe, este é o Ted.-rimo-nos.

Sweet Escape || Dylan O'BrienWhere stories live. Discover now