5 || Silence

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5 || Silence

Ouço uma voz rouca mas suave ao mesmo tempo do outro lado da porta. Os meus ouvidos automaticamente associaram aquele barulho a uma voz masculina. É um psicólogo.

-Sim? Entre, por favor.

Os meus dedos trémulos pressionam a maçaneta, empurrando a porta para a frente. Não estou preparada para isto, não estou mesmo. A porta abre-se e vejo uma sala com um candeeiro em cima da secretária com uma luz forte como única luz de fundo. Apesar da escuridão, é possível ver dois sofás pretos, um à frente do outro, uma secretária com duas cadeiras e atrás desta, uma janela com a persiana fechada. Consigo ver também uma prateleira cheia de livros, um rádio e uma jarra de flores brancas.

Sentado num cadeirão preto à frente da janela com os cotovelos apoiados na mesa e com a luz forte do candeeiro a incidir-lhe na cara está um rapaz demasiado novo. Eu só lhe dava uns três anos a mais que eu. Será este o psicólogo?

-Tu deves ser a Beatrice Robbertson. -ele rapidamente se levanta, vindo ter comigo. Ele enverga umas calças de um amarelo-torrado quase castanho e uma camisa aos quadrados verdes, brancos e azuis-marinhos desapertada com uma camisola verde com uns retoques a preto por dentro. É bastante alto, tem olhos castanhos e um cabelo castanho liso ligeiramente para cima. Estranho quando ele me trata por tu. Simplesmente, aceno com a cabeça para responder à sua pergunta. Ele faz sinal para que me sente num dos sofás. Faço o que pede e ele senta-se no sofá à minha frente com as pernas abertas como todos os rapazes fazem com os cotovelos apoiados nos joelhos e entrelaça os seus dedos. -Eu sou o teu psicólogo. –esta frase veio tirar todas as minhas dúvidas. Isto está a ser demasiado estranho. Sempre imaginei os psicólogos como velhos cheios de rugas e óculos na ponta do nariz vestidos com camisa e calças de vincos ou então senhoras calmas e chatas ao mesmo tempo vestidas com saias pelo joelho. Este tinha cara de modelo ou coisa assim. É bastante bonito, tenho de admitir. E estranho.

Sento-me de forma tensa sem conseguir encostar as costas ao sofá e volto a acenar com a cabeça quando ele diz a última frase.

-Não te importas que te trate por tu, pois não?-encolho os ombros para mostrar que tanto me faz -Sei que tens 17 anos. Eu sou só três anos mais velho, portanto acho que também me podes tratar assim. –acho que não me sinto à vontade ao trata-lo assim. Mia nem me disse o nome dele nem a idade, mas as minhas suspeitas confirmam-se. Ele tem vinte. Eu não sei nada sobre ele, mas ele parece saber demasiado sobre mim. Pergunto-me se foi a Mia a marcar a consulta ou se ela contou ao Mathew. E à minha mãe. Ela disse que tinha falado com ela. Será que ela lhe disse? Oh meu Deus, se a minha mãe sabe disto, quando chegar a casa, já vou ouvir. E como é que eu volto para casa, agora? Ouço-o clarear a voz presa na garganta, espantando as preocupações que atravessaram a minha mente. –Não vais dizer nada?-olho para ele e não respondo, baixando a minha atenção para as minhas botas pretas. Esta vai ser uma longa hora. Quer dizer, eu nem sei quanto tempo é que as sessões duram. Eu não sei nada de nada. Brinco com os meus dedos, pois quando quero esconder o nervosismo, é isto que faço. –Bom, talvez queiras começar por me fazer uma breve apresentação de ti, sei lá, os teus gostos, o que costumas fazer?-suspiro, pesadamente.

-Ainda não percebeu que eu estou aqui obrigada, pois não?-é a primeira vez que falo desde que aqui cheguei. Até me pareceu que não conheci a minha própria voz. Ele arregala os olhos e abre a boca ligeiramente, espantado com a minha afirmação. Talvez tenha sido demasiado rude. Sinto as minhas bochechas queimarem e percebo automaticamente que estou a corar com vergonha da minha reação. Apesar de tudo, ele não tem culpa. A Mia é a culpada disto. Mordo o lábio inferior e limpo as mãos às calças. O suor dos meus dedos não para de sair. Acho que nunca estive tão nervosa na minha vida. Vejo-o molhar os lábios e engolir em seco devido à saliência que se forma na sua garganta. Sempre achei isto demasiado atraente nos rapazes e nele, isso ainda fica mais bonito. Bom, pelo menos, as minhas vistas podem consolar-se sempre que cá vier. Ele deve ter pouca experiência e não deve saber bem o que fazer. Isto não vai ser nada bom.

Sweet Escape || Dylan O'BrienOnde as histórias ganham vida. Descobre agora