6 || Bad Dreams

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Abro o pequeno portão cinzento, subo as escadas da entrada e abro a porta silenciosamente, ainda com a esperança que a minha mãe já estivesse a dormir. Entro em casa e a minha mãe está sentada no sofá de pijama e robe vestido com a sua atenção na lareira e na televisão. Ela rapidamente se vira para trás ao sentir a brisa fria da noite que entra na sala, quando eu abro a porta. Consigo ver preocupação e uma certa desilusão nos seus olhos.

-Olá-digo, apontando para as escadas como sinal de que estou cansada e quero dormir.

-Não, não, não, tu não vais para cima. Primeiro, vamos ter uma conversa. -ela diz, levantando-se do sofá. Depois desta semana e deste dia horríveis, tudo o que menos me apetece fazer é ter uma conversa destas com a minha mãe.

-Mãe, eu..-sou interrompida pela sua voz de mãe super protetora.

-Beatrice, porquê que não me contaste? Porquê que tu nunca me disseste que estavas triste. Tu contavas-me tudo antes! Eu realmente estranhei quando deixaste de falar comigo sobre algumas coisas mas eu pensei sinceramente que as coisas tinham melhorado na escola. E depois, a morte dos teus avós, o divórcio, foi tudo demais para tu aguentares, eu sei e eu fui estúpida em não reparar mas porquê que não me contaste. –vejo os seus olhos esforçarem-se para não chorar.

-Mãe, temos mesmo de fazer isto?-pergunto.

-Filha…-interrompo-a.

-Mãe, eu estou bem, acredita em mim. Eu não preciso de psicólogo nenhum. A Mia exagera às vezes. Ela acha que eu não consigo aguentar nada, mas eu consigo, mãe.-minto.

-Beatrice, ouve o que estás a dizer! Ninguém com a tua idade consegue aguentar tudo o que tu passaste e passas todos os dias. Eu fui tão burra. Estava tão ocupada com o meu trabalho que nem reparei que a minha filha precisava de mim, do meu apoio. –sinto que ela se está a culpar. As lágrimas começam a escorrer-lhe pela face. Decido ir ter com ela. Os meus braços colocam-se à volta dos seus ombros e eu abraço-a fortemente.

-Mãe, a culpa não é tua. -digo baixinho.

-A Mia diz que o psicólogo é o melhor para ti e eu concordo com ela. Tu vais continuar a ir às consultas e vais contar-me tudo o que te atormenta a partir de hoje.-ela diz e eu afasto-me do abraço, encarando-a nos olhos.

-Mãe, eu não quero ir…-ela interrompe-me.

-Beatrice, vais e não se fala mais nisso.-o tom de voz dela muda de carinhoso para imperativo e eu não gosto de quando ela age assim. Ela pode ser minha mãe mas eu detesto quando ela me manda fazer coisas que eu não quero.

-Mas, mãe…-ela interrompe-me outra vez.

-Beatrice, isto é o melhor para ti, será que não consegues perceber isso?-grita. Desta vez, não aguento e decido dizer-lhe tudo o que me enerva, tudo de uma vez.

-E a mim? E a mim mãe? Quem é que me percebe?-olho-a nos olhos e vejo-a erguer as duas sobrancelhas. Ela fica calada e eu decido continuar- Eu perdi os meu s avós e assisti à separação dos meus pais. Tudo no mesmo ano. Eu é que tenho de aturar os preconceitos dos meus colegas na escola! Eu é que tenho de chegar todos os dias, olhar-me ao espelho e sentir-me a pior merda que existe neste mundo. Eu é que tenho de me fechar no quarto e isolar-me do mundo porque odeio ver pessoas que não valem o lixo que tu levas todos os dias lá para fora. -respiro e vejo-a arregalar os olhos com as minhas palavras. -Eu é que sempre que adormeço à noite desejo não acordar no dia seguinte. E mais, eu estou farta que toda a gente ache que pode decidir tudo por mim. A Mia, tu! Tu nunca me deixas sair à noite. Não confias em mim! Por amor de Deus, eu não sou nenhuma criança. Eu sei tomar conta de mim! Eu devia ter desconfiado que tu nunca me deixarias sair com a Mia numa sexta à noite! A estupida aqui sou eu.-volto a respirar- Eu ando naquela escola sem o querer. Tu e o pai sempre souberam que o meu sonho é e sempre será a música, mas mesmo assim, preferiram que eu seguisse ciências. Mas mesmo assim, eu esforço-me para tirar boas notas e para vos deixar orgulhosos. Nunca me deixas visitar a casa dos avós porque achas que é mau para mim! E agora, e agora querem o quê? Querem que eu me sente à frente dum estranho a falar sobre isto? Tu estás sempre a tentar proteger-me! Tu e a Mia planearam isto nas minhas costas, sem o meu consentimento! Tu e toda a gente mas não é por causa disso que os meus problemas desaparecem!-preparo-me para subir as escadas mas lembro-me que tenho mais qualquer coisa a dizer-lhe- Tu e o pai planearam que eu nascesse hà 17 anos atrás mas ninguém me perguntou se eu queria ter nascido! Sabes que mais? Não eram os avós que deviam de ter morrido naquele maldito acidente! Era eu! A vida deles era tão preciosa para mim. A minha não vale nada. Não há um dia em que eu não me sinta culpada por os médicos me terem conseguido salvar a mim e não a eles. Tenho tantas saudades deles. Eles, sim, compreendiam-me. –as minhas lágrimas não param de cair. Depois disto, a minha mãe não vai parar com a ideia do psicólogo e eu vou ser obrigada a ir às consultas. Ela deve achar que eu estou doida.

Sweet Escape || Dylan O'BrienWhere stories live. Discover now