50 | as promessas que serão cumpridas.

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— Tá bem — disse ela, enfim.

Nesse momento, papai entrou na cozinha com uma miniatura dele atrás. Ethan parecia emburrado, suas sobrancelhas escuras formando um vinco entre elas por causa da expressão séria. Eu reprimi meus lábios para esconder um sorriso satisfeito.

— Agora você pede desculpas — papai disse, e eu levei cinco segundos para notar que ele estava falando comigo.

Meu queixo caiu. — O quê? Por quê?

Mamãe estava rindo enquanto balançava a cabeça. Papai se abaixou para ficar da minha altura e seus olhos coloridos encararam os meus, cheios de ternura, porém, ainda sérios.

— Ethan disse que você bateu nele.

— Mas foi só um pouquinho, — protestei.

— Você jogou um sapato na minha cabeça! — exclamou Ethan, parecendo ofendido. — Doeu, tá? Você é violenta. O que acontece com as irmãzinhas fofas e bonitinhas dos filmes que eu vi?

Culpa cresceu em meu peito e eu me encolhi, desviando o olhar para minhas mãos. Eu não queria realmente bater nele; nem queria acertar. Mas o aniversário dele estava chegando e eu estava montando um presente legal com a ajuda do papai, algo a ver com o universo e essa porcaria toda que ele gosta de astronauta. Astro... monia? Não era astronauta... droga. Esqueci a palavra.

Mas ele era intrometido e eu estava brava e o sapato estava ali, então eu uni o útil ao agradável. Percebi que pode ter sido desagradável ao seu ponto de vista.

— Desculpa — murmurei, minhas bochechas aquecendo.

— Pronto — meu pai disse, beijando minha testa.

— Quê? — Ethan perguntou, estridente. — Só isso?

— Ethan... — mamãe começou, escondendo uma risada. — Você é tão dramático.

— Não sou dramático — retrucou, soando indignado. — Só que ela ganha beijinho e eu ganho o quê?

Eu me alegrei, abrindo um largo sorriso. Sua testa estava avermelhada e talvez ele ficasse com um galo ali por causa do salto do sapato.

— Você quer um beijinho? — eu perguntei, animada por poder fazer algo para ele me perdoar. — Eu posso te dar um beijinho.

Ethan torceu o nariz para mim, mantendo os braços cruzados como se tivesse um rei na barriga. Papai pegou uma faca na gaveta e sentou ao lado da mãe, ajudando-a a cortar as batatas em pequenos tracinhos. BATATA FRITA.

Uhhh, batata frita — eu disse, quase derrubando meus olhos dentro da tigela. Então eu me lembrei: — Pai, por que você comeu meu chocolate?

— Hã... estava... hm, — gaguejou, evitando meu olhar com uma carranca suave. — Estava estragado.

Dei de ombros, assentindo e ignorando o som debochado que Ethan produziu com a garganta. Mamãe cutucou meu pai com o cotovelo, trocando um olhar que eu não entendi. De qualquer forma, eu estava descendo da cadeira quando papai deslizou notas de dinheiro sobre a mesa, na direção de Ethan.

— Vão comprar chocolate — disse ele. — Ah, e azeitonas.

Eu fiz uma careta. — Azeitona é ruim.

— Bem, sua mãe e Ethan gostam, então...

Eu abri a boca para um comentário, mas Ethan já estava acenando para mim com dois dedos.

— Vamos, Allie.

— Dá pra trazer um refrigerante? — perguntei, sorrindo.

Papai esquadrinhou meu rosto e de algum modo, os traços de seu rosto suavizaram. Ele era muito parecido com Ethan. Mas o que eu mais gostava no rosto de Elliott Young era o sorriso que ele sempre tinha para mim, e eu nunca nunquinha esqueceria de como ele olhava para mim, Ethan e mamãe como se fossemos tirar a lua do bolso a qualquer momento.

Amnésia (vol.1)Where stories live. Discover now