50 | as promessas que serão cumpridas.

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Papai cobriu minha boca com sua mão gigante, impedindo-me de repetir a bendita palavra. Agachando-se ao meu lado, ele me olhou com certo desespero.

— Não, rainbow. Esse tipo de palavra é proibido aqui.

Eu enruguei minha testa, minha voz saindo abafada contra sua mão: — Ué. Por que ele disse então?

— Porque seu irmão claramente está andando com aquele menino mal educado novamente. — Ele respondeu, desta vez encarando Ethan. — Venha cá, rapaz. Vamos ter uma conversa sobre palavrões na frente da sua irmã.

Claro que ele não passaria por mim sem mostrar a língua.

Em resposta, chutei sua canela.

— Alyssa — mamãe repreendeu. — Você tem que parar de bater no seu irmão.

— Mas...

Ela ergueu o indicador, estendendo a outra mão para mim. Eu a peguei, seguindo-a pela casa.

— Ethan é um menino, meninos são menos inteligentes que meninas. É... — ela fez uma pausa, franzindo a testa na direção do teto. — Biológico, eu acho. Natural.

Eu abri minha boca, admirada com essa revelação. Mamãe era sempre muito sábia. Eu a observei pegar quatro batatas e sentar-se à mesa de madeira marrom clara para cortá-las, tentando não demonstrar minha curiosidade para saber se ela iria fazer batata frita. Mamãe odiava que perguntassem o que ela estava cozinhando — a menos que fosse o papai. E, geralmente, quando era ele, os dois acabavam abraçados e trocando saliva, o que era no mínimo esquisito.

Foi inútil tentar ouvir o que os dois estavam falando na sala, então eu me sentei na frente da mamãe e continuei a observando. Seus cabelos castanhos, um pouco mais escuros que o meu, estavam presos em uma trança que caía sobre seu ombro esquerdo e quase passava do pequeno bolso com uma flor lilás que ficava sobre o seio. Todo mundo diz que eu pareço com ela. Eu sorrio com essa constatação, porque minha mãe era a mulher mais linda que eu já tinha visto na minha vida todinha.

Certo, eu tinha só 9 anos, mas duvido que ela deixasse de ser linda algum dia.

No entanto, eu adorava a cor dos meus olhos porque eram iguais aos do papai. Era um pouco estranho, mas isso me garantiu aquele apelido legal e olhares curiosos que meu irmão sempre afasta com uma cara feia pelos corredores. As pessoas não conseguem nem ser discretas e eu me perguntava como alguém que realmente tinha algum problema com aparência ou com alguma característica em si, conseguia lidar com isso.

Pelo menos meu irmão me defendia e papai me ensinava algumas coisas sobre autodefesa. Claro, ninguém nunca foi rude em relação a isso, mas apenas no caso...

— O menino Foley esteve aqui ontem — minha mãe disse. — Ele te trouxe chocolate.

Eu corei. — Ah, é? Posso comer?

Foi a vez de a minha mãe corar. — Seu pai comeu ontem à noite, mas disse que vai comprar mais pra você amanhã quando formos ao supermercado.

Eu revirei meus olhos. — Por quê? Não era mais fácil só ter me dado o chocolate?

Ela riu, descascando outra batata.

— Seu pai tem ciúmes, meu amor. Se depender dele, você não vai nem beijar ninguém até os vinte anos.

Horror torceu meu rosto.

Eca. Não quero nunca nunquinha beijar ninguém.

Minha mãe sorriu, o tipo de sorriso que evidenciava a covinha em seu queixo e iluminava seus olhos. Eu, no entanto, fiz uma careta. Deus me livre fazer aquela coisa de colocar a boca tão perto uma da outra como ela faz com o papai. Ethan também disse que deve ser nojento, mas sei lá. Parece legal? E Ethan é burro, então não sei.

Amnésia (vol.1)Where stories live. Discover now