Papai cobriu minha boca com sua mão gigante, impedindo-me de repetir a bendita palavra. Agachando-se ao meu lado, ele me olhou com certo desespero.
— Não, rainbow. Esse tipo de palavra é proibido aqui.
Eu enruguei minha testa, minha voz saindo abafada contra sua mão: — Ué. Por que ele disse então?
— Porque seu irmão claramente está andando com aquele menino mal educado novamente. — Ele respondeu, desta vez encarando Ethan. — Venha cá, rapaz. Vamos ter uma conversa sobre palavrões na frente da sua irmã.
Claro que ele não passaria por mim sem mostrar a língua.
Em resposta, chutei sua canela.
— Alyssa — mamãe repreendeu. — Você tem que parar de bater no seu irmão.
— Mas...
Ela ergueu o indicador, estendendo a outra mão para mim. Eu a peguei, seguindo-a pela casa.
— Ethan é um menino, meninos são menos inteligentes que meninas. É... — ela fez uma pausa, franzindo a testa na direção do teto. — Biológico, eu acho. Natural.
Eu abri minha boca, admirada com essa revelação. Mamãe era sempre muito sábia. Eu a observei pegar quatro batatas e sentar-se à mesa de madeira marrom clara para cortá-las, tentando não demonstrar minha curiosidade para saber se ela iria fazer batata frita. Mamãe odiava que perguntassem o que ela estava cozinhando — a menos que fosse o papai. E, geralmente, quando era ele, os dois acabavam abraçados e trocando saliva, o que era no mínimo esquisito.
Foi inútil tentar ouvir o que os dois estavam falando na sala, então eu me sentei na frente da mamãe e continuei a observando. Seus cabelos castanhos, um pouco mais escuros que o meu, estavam presos em uma trança que caía sobre seu ombro esquerdo e quase passava do pequeno bolso com uma flor lilás que ficava sobre o seio. Todo mundo diz que eu pareço com ela. Eu sorrio com essa constatação, porque minha mãe era a mulher mais linda que eu já tinha visto na minha vida todinha.
Certo, eu tinha só 9 anos, mas duvido que ela deixasse de ser linda algum dia.
No entanto, eu adorava a cor dos meus olhos porque eram iguais aos do papai. Era um pouco estranho, mas isso me garantiu aquele apelido legal e olhares curiosos que meu irmão sempre afasta com uma cara feia pelos corredores. As pessoas não conseguem nem ser discretas e eu me perguntava como alguém que realmente tinha algum problema com aparência ou com alguma característica em si, conseguia lidar com isso.
Pelo menos meu irmão me defendia e papai me ensinava algumas coisas sobre autodefesa. Claro, ninguém nunca foi rude em relação a isso, mas apenas no caso...
— O menino Foley esteve aqui ontem — minha mãe disse. — Ele te trouxe chocolate.
Eu corei. — Ah, é? Posso comer?
Foi a vez de a minha mãe corar. — Seu pai comeu ontem à noite, mas disse que vai comprar mais pra você amanhã quando formos ao supermercado.
Eu revirei meus olhos. — Por quê? Não era mais fácil só ter me dado o chocolate?
Ela riu, descascando outra batata.
— Seu pai tem ciúmes, meu amor. Se depender dele, você não vai nem beijar ninguém até os vinte anos.
Horror torceu meu rosto.
— Eca. Não quero nunca nunquinha beijar ninguém.
Minha mãe sorriu, o tipo de sorriso que evidenciava a covinha em seu queixo e iluminava seus olhos. Eu, no entanto, fiz uma careta. Deus me livre fazer aquela coisa de colocar a boca tão perto uma da outra como ela faz com o papai. Ethan também disse que deve ser nojento, mas sei lá. Parece legal? E Ethan é burro, então não sei.
YOU ARE READING
Amnésia (vol.1)
Romantik➛ A primeira queda: livro 01 da série "The Four Falls". Pelo modo que Leon St. John caminhava e observava tudo com olhos de um felino selvagem, Alyssa Young simplesmente via o aviso piscando como um letreiro neon na frente de seus olhos: Território...
50 | as promessas que serão cumpridas.
Start from the beginning