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Dei um, dois, três passos e parei. Virei-me.

— Desculpe — disse, tentando chamar sua atenção. O homem de terno parou de andar e virou-se.

Apertei a alça da minha mochila.

— Sei que não nos conhecemos nem nada, mas será que você poderia me levar para a escola?

Um, dois, três segundos de silêncio e o homem disparou a rir.

Tudo bem. Definitivamente nunca mais sairei sem meu motorista, nem meu celular.

— Para sua sorte, eu conheço bem onde fica essa escola — disse enquanto mirava o emblema estampado no meu casaco. Colocou as mãos no bolso. — Mas não acha que está bem grandinho para não saber o caminho para a escola? — disse em tom de zombaria. Revirei os olhos.

— Eu sou novo na escola — disse a primeira desculpa que surgira em minha mente.

O homem de terno caminhou até mim. Retirou suas mãos do bolso e passou seu braço pelos meus ombros.

— Você está pior que eu quando era adolescente. Mesmo indo para todo lado com meu motorista, ainda assim sabia onde era a escola.

— — — — — —

O homem de terno preto, que se apresentara como Alex, me deixou na escola e disse que era s a mesma escola em que estudou quando tinha a minha idade. Também segundo ele, em sua época de ensino médio, foi o garoto mais popular da escola, fato que fingi acreditar sem pestanejar. Afinal, ele é quem estava no volante, o melhor que poderia fazer era concordar com suas ilusões.

Logo que adentrei o prédio onde ocorria a maioria das minhas aulas, o sinal tocou e os corredores anteriormente vazios se encheram de adolescentes e professores que passavam de um lado para o outro e se esbarravam uns nos outros pela falta de espaço.

Não diria que desgostava dos outros, mas, enquanto passava meus olhos pelas pessoas, apenas queria ver Kira e, após uma pequena procura, eu a encontrei. Como se nosso encontro fosse predestinado, ela veio até mim. Quer dizer, não propositalmente. Ela tropeçou enquanto caminhava e eu a segurei para que não caísse, mas, antes que ocorresse qualquer efeito câmara lenta, música de fundo, luzes vindas do além, Kira se afastou.

Barulhos de armários sendo fechados, conversas aleatórias, som de passos, - vários passos, como de soldados marchando - eram os únicos sons que preenchiam o ambiente. Nenhum de nós falava. Eu, porque não tinha a certeza de como falar, e ela, porque parecia estar pensando no que dizer e, por um longo tempo, ficamos assim, apenas absorvendo todo o barulho à volta, menos os das nossas vozes.

— Obrigada — disse rapidamente. Tão rápido que pensei ter ouvido errado.

— Ah...de nada — digo para ela.

O silêncio nem tão silencioso voltou a reinar entre nós e, em um momento, enquanto esperava ouvir sua voz novamente, eu pensei que ela viraria as costas e iria embora, mas ela continuou parada a minha frente, com o olhar de alguém que tinha algo a dizer, mas que não sabia como dizê-lo.

Pensei em mim mesmo.

Eu também não sabia como dizer as palavras que estavam presas em minha garganta.

Pacientemente, esperei por suas próximas palavras enquanto tentava formular minhas próprias palavras em minha cabeça.

— Sinto muito — disse rápido.

Levantei uma sobrancelha, confuso.

— Pelo chute — continuou. — Não deveria ter batido tão forte. Devia apenas ter dado um soco. Fui longe demais — admitiu. Como se me dar um soco realmente fosse a melhor opção, ela pareceu sincera.

Olhei para suas mãos. São pequenas, então concluí que talvez não doesse tanto. Olhei para seus pés. São pequenos, então concluí que talvez seu soco doesse tanto quanto o chute.

Parece que tamanho não é documento.

— Não precisa se desculpar — digo.

Se é que isso pode realmente ser considerado um pedido de desculpas.

— Afinal, fui eu quem foi um idiota com você.

— Não posso discordar — disse e cruzou os braços.

— Sinto muito. — Apertei a alça da mochila. — Peço desculpas por tudo que fiz a você — digo para ela. — Sei que pode soar uma desculpa, mas eu nunca, mas nunca mesmo fui ensinado a pensar nos sentimentos dos outros, ou em qual é a melhor forma de tratar alguém, ou que não é certo usar o dinheiro para conseguir tudo - para conseguir até mesmo uma amizade.

Kira descruzou os braços. Seus olhos me encararam atentamente.

— Você queria minha amizade?

Um, dois, três segundos de silêncio.

Meus batimentos cardíacos aumentaram.

Mordi meus lábios inferiores enquanto pensava na resposta certa que não me faria levar um soco.

— Eu...

Meus batimentos cardíacos aumentaram.

— Na verdade, queria mais que isso — confessei.

Já levei um chute. O soco será só mais um para coleção.

— Antes eu estava feliz em apenas observar você, mas quanto mais o tempo passava, eu queria mais e mais. Eu quis... — travei. Minhas palavras covardes fugiram novamente e dessa vez acho que não as censurei

Um, dois, três longos segundos de silêncio.

Kira deu um passo em minha direção e eu recuei.

— O quê? — perguntou e apenas lhe ofereci meu silêncio como resposta. — Namorar? — perguntou e, como um idiota, assenti lentamente.

Acho que devia ter dito ao Jase para preparar a caixa de primeiros socorros.

— Então aquilo de gostar de mim é mesmo verdade? — perguntou e novamente voltei a assentir com a cabeça.

Um, dois, três segundos de silêncio.

— Não entendo — admitiu com um olhar confuso. — Se gostava de mim, por que tentou me prejudicar e me incomodar tantas vezes?

— Eu ainda gosto de você — declarei, tentando corrigir sua frase. Kira me olhou confusa. — Você disse gostava e eu queria corrigir, pois eu ainda gosto de você — digo para ela, que apenas fica em silêncio. — Respondendo a sua pergunta... Eu pensei, achei que dessa forma você iria olhar para mim. Queria sinalizar com foguetes para que você me visse, mas acabei exagerando. Fiz tudo errado. Pensei errado, por isso, sinto muito por ter tomado atitudes idiotas e sem noção.

— Tenho de concordar, você foi mesmo um idiota — disse, enquanto assentia com a cabeça. — Mas... — soltou. Deu uma pausa, como se quisesse me torturar, pensando nas possíveis palavras que viriam depois desse mas.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove segundos de silêncio.

— Não é porque você foi um idiota que eu não posso lhe dar uma segunda chance. Para recomeçarmos — disse, e seus lábios se formaram em um sorriso.

Lindo.

Linda.

— Vamos esquecer o que aconteceu no passado e vamos ser amigos. — Kira estendeu sua mão para mim.

Olhei para sua mão por um, dois, três segundos e a peguei.

— Obrigado — disse sinceramente.

Sorri para ela.

— Por me dar uma segunda chance. Mesmo eu sendo um idiota.

Fim

Notas finais

Olá, sou a Tayuri, muito prazer. Eu espero que tenha gostado do conto. Se puder tirar um tempinho, pule lá nos comentários e me diga o que achou.

Muito obrigada por ter lido até o fim.

Escrito por: Tayuri

Revisado por: Larissa Amaro 

Os idiotas também merecem uma segunda chanceWhere stories live. Discover now