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Já perdi a conta de quantas vezes, enquanto assistia algum filme ou série, critiquei e discuti com os personagens que ficavam se lamentando por causa de uma rejeição e, agora, como se fosse uma punição, cá estou eu envolto em um cobertor, me lamentando como um idiota por ter sido rejeitado e ainda ter levado um chute como recordação.

Soltei um suspiro pela milésima vez enquanto me perguntava quando tudo aquilo terminaria? Por que, mesmo após ser rejeitado, eu ainda continuava gostando dela? Por que ela me rejeitou? Por quê?

Várias perguntas, mas nenhuma resposta.

Levantei-me da cama e caminhei arrastando meu cobertor até o espelho de corpo inteiro.

Zombie.

Era assim que eu parecia. Olheiras, cabelo bagunçado, rosto cansado, mas ainda assim estava bonito. Tão bonito que, se fosse em uma audição para interpretar um zombie, seria sumariamente rejeitado por ser bonito demais para um zombie.

Deixei o cobertor cair no chão e olhei-me de cima a baixo, vasculhando, procurando alguma imperfeição.

Não consegui identificá-las, então apenas comecei a apontar para qualquer característica. Critiquei meu cabelo por ser cacheado demais; critiquei meus olhos por serem de cores diferentes critiquei minha altura por ser menor que a do melhor amigo dela, que parecia ser tão alto quanto uma girafa comprida; critiquei minhas sardas por me deixarem fofo ao invés de sedutor. No final, apenas me senti mais lamentável do que antes.

Deram dois toques na porta, mas eu não me movi.

Um, dois, três segundos de silêncio e a porta foi aberta.

Pelo reflexo do espelho, pude ver Jase, o mordomo da casa. O homem loiro de 1,80m de altura, vestido impecavelmente, caminhou até uma mesa, carregando uma bandeja em sua mão. Pousou-a em cima dela e levantou seus olhos para mim.

— Então vai me contar o porquê de estar machucado, ou eu preciso investigar? — perguntou, mas, em resposta, apenas recebeu o silêncio.

Desviei meu olhar do reflexo de Jase e encarei meu próprio reflexo.

— Você brigou com alguém ou alguém bateu em você? — perguntou.

Alternei meu olhar para o seu reflexo e pude ver claramente em seus olhos que não pararia até saber.

— Alguém bateu em mim — respondi. Por breves segundos, eu o vi vacilar um pouco de sua postura calma, mas se recompôs em uma velocidade extraordinária.

— Jovem mestre não é o tipo de pessoa que deixa alguém simplesmente bater em si.

Um, dois, três segundos de silêncio entre nós.

— Seu oponente era tão forte assim que sequer conseguiu revidar? — perguntou calmamente, mas em seus olhos eu podia ver o quão curioso estava.

— Ela é deste tamanho. — Elevo meu braço até a altura do meu peito, deixando assim claro que a pessoa a quem me referia era mais baixa que eu.

Jase piscou uma, duas, três vezes, incrédulo.

— Ela — começou — era uma garota? — perguntou visivelmente surpreso.

— Sim. — Olhei para o meu reflexo. — Uma garota.

Os idiotas também merecem uma segunda chanceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora