Capítulo 08 - Fumaças de um tempo distante!

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"Se decidir ressuscitar o passado, também ressuscitará as suas dores"


    Cada passo que Hérion dava em direção a bruxa fazia seu estômago revirar

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    Cada passo que Hérion dava em direção a bruxa fazia seu estômago revirar. Era como se os próprios órgãos do caçador trocassem de posição, formando um verdadeiro baile em sua barriga. Será que finalmente descobriria algo sobre o seu passado? Mal dava para acreditar que as respostas pelas quais havia procurado a vida inteira, poderiam estar há alguns metros de distância. Por outro lado, a bruxa o aguardava com um largo sorriso no rosto, extasiada, enquanto aproximava seus lábios carnudos para perto dos ouvidos de Burty.

- Tem certeza que os quer por perto? - Sussurrou em tom quase inaudível, observando os demais visitantes - Eles poderão ver tudo que acontecer... Seu passado se tornará um livro aberto.

    Hérion chegou a hesitar, mas decidiu seguir em frente. No fim das contas, nunca havia se importado com que os outros pensavam a seu respeito e aquela não seria a primeira vez.

- Deixe-os ali e faça o que sabe bruxa... Aliás, não tente me passar a perna, essa seria uma péssima ideia.

- Que tipo de pessoa acha que sou? Vamos fazer assim... Como prova da minha boa vontade e uma forma de gerar mais confiança entre nós, eu lhe direi o meu nome. Me chamo Maira, mas muitos me conhecem como a bruxa que vê. Sei que isso não é o suficiente para você acreditar em mim, mas é o que posso fazer, não é? - Perguntou com um sorriso irônico no rosto - Agora se prepare, pois você irá sentir um leve formigamento no corpo.

    Maira tocou a testa de Burty e fez um ágil movimento, como se puxasse algo para fora do caçador. No mesmo instante, Hérion sentiu um arrepio percorrer toda a sua espinha, antes de ver a bruxa se virar e soprar por entre os dedos, fazendo surgir uma espécie de fumaça negra que se espalhou pelo ambiente e envolveu todos a sua volta.

    A fumaça parecia ter vida própria, contornava o palco e flutuava levemente entre Hérion e a bruxa. Até que começou a se concentrar formando a imagem de um homem, no início embaçada e cinzenta... Depois sólida, com cores tão realista que causavam a impressão de ter realmente alguém ali. Era um sujeito de aspecto forte, cabelos castanhos e olhos verdes, vestindo uma espécie de calça de couro e camisa de manga azul. Estava montado sobre um cavalo marrom, observando aflitamente algo ou alguém, ainda invisível, há alguns metros de distância.

    "Suzan, suba aqui! Temos que ir até Anameor!", disse ele. Outra parte da fumaça formou uma mulher de cabelos dourados e olhos cor de mel, com um manto azul sobre os braços, envolvendo um bebê em prantos. Ela subiu no cavalo, esparramando a beira de seu vestido gélido e encardido sobre o animal, na medida em que dialogava com o sujeito. "Temos que ser rápidos Alan, ou tudo vai acabar antes de salvarmos nosso filho". O cavalo saiu a galopar velozmente, passando ao lado de Hérion e desfazendo-se diante de seus olhos.

- Mãe... Pai... - Disse o caçador imóvel, incapaz de esboçar qualquer reação, tamanha a sua paralisia.

    Italo, Miguel e Ivy observavam de longe, sem conseguir imaginar o que se passava na cabeça de Burty, após ver seus pais daquela forma. Enquanto isso, Maira permanecia concentrada, com uma das mãos apontando para Hérion e outra para a fumaça que começava a modelar uma figura conhecida, Anameor, só que um pouco mais jovem e apavorado. "Finalmente chegaram! Levem Hérion para perto de Daise, antes que ele nos encontre!" Suzan apareceu correndo de relance e toda fumaça se desfez, exceto por um estranho volume que se formava, rastejando pelo chão do palco.

    Era a cobra branca de olhos vermelhos, seguindo na direção de Burty, com cinquenta vezes o tamanho da que ele havia avistado no bar dos Greegan's. Ela se erguia sobre o ventre, como se estivesse mirando alguém, prestes a dar o bote. Foi aí que Hérion percebeu, sua mãe caída, rastejando pelo chão com os joelhos e cotovelos, ainda carregando o manto azul nos braços. A cada segundo ela chorava e se desesperava mais.

    "Você vai me odiar por isso! Me desculpe filho, não me odeie! A mamãe te ama!". Depois das palavras, Suzan congelou, parecia ter percebido que estava dando seus últimos suspiros. "Não me odeie Hérion, eu te amo!". A serpente que espreitava a mulher, como uma presa indefesa, deu seu bote veloz e fatal, mas não visto, pois a fumaça se dissolveu no exato momento do ataque e tomou a forma de Alan e Anameor.

    Ambos seguravam lanças e estavam furiosos. Em contrapartida, a serpente branca crescia diante dos dois, como havia feito com Suzan. Alan correu direto em sua direção cravando a lança na cobra, ao mesmo tempo que era abocanhado por ela. Então, outro cenário foi montado, um onde Anameor se encontrava parado, com Hérion nos braços, em frente ao túmulo de seus pais. "Vocês conseguiram meus amigos, nos livramos dele... Vocês conseguiram!".

    Quase que em um piscar de olhos tudo terminou. Agora, Hérion tentava processar o volume de informações que havia acabado de receber, lutando para manter a pouca sanidade que lhe restava.

- Você está bem meu amigo? - Perguntou Ítalo, sem resposta- Hérion?

Hérion Burty - O caçador de LendasWhere stories live. Discover now