Hérion Burty - O caçador de Lendas

Capítulo 16 - Uivos na caverna

"Na vida, guardar as costas de um amigo é um ato de honra."  

  Após o último estalo metálico emitido pelas engrenagens, o som de pegadas brutas e velozes certamente não acalmaram o coração de Miguel. Questionar suas próprias escolhas parecia ser cada vez mais natural para o garoto. Contudo, o fato de não estar sozinho melhorava um pouco a situação e toda confusão que se projetava em sua cabeça.

  - Seja lá o que estiver vindo, são dezenas! - Observou Daise. - Melhor guardarmos nossas costas.

  - Ótima ideia! - Concordou Burty. - Não podemos ficar vulneráveis aqui dentro.

  Em círculo, o grupo protegia uns aos outros esperando atentamente pela aparição de criaturas nos túneis da caverna. O barulho do que quer que fosse tornou-se em um misterioso silêncio, capaz de destacar o som da respiração ofegante de Ivy. Então Burty pôde ver um par de olhos amarelos surgirem da escuridão, acompanhados de um rosnado feroz emitido por um focinho que esbanjava dentes afiados. Patas grossas de pelugem negra, unhas cortantes e orelhas pontudas esticadas em sinal de alerta. O tamanho  corporal chegava a um metro e meio, com as quatro patas no chão. Cada aspecto da criatura parecia ser uma ameaça mortal para suas presas.

  - Lobisomens! - Disse Ítalo preparando-se para o pior.

  - É inacreditável... lobisomens dentro de uma caverna em Aglácia. Isso é loucura! - Miguel surtava mais a cada segundo, sentindo-se em uma verdadeira ratoeira de monstros. - Eu não aguento mais isso! Não aguento mais!

  Sutilmente, o garoto sentiu a mão de Ivy repousar sobre seu ombro e dar um pequeno apertão.

  - Vai dar tudo certo Miguel. Vamos ficar bem! - Afirmou, confortando o amigo com um sorriso. - Vou criar uma barreira e eles não poderão nos ferir.

  - Não, vocês vão sair daqui agora mesmo. - Indubitavelmente, as palavras de Hérion não foram uma sugestão. - Vou abrir caminho e quero que os dois corram o mais rápido que puderem para fora desta caverna. Já se arriscaram demais e Miguel ainda não se recuperou dos ferimentos.

  Na medida em que falavam outras dezenas de lobisomens se aproximavam, rodeando o grupo e diminuindo os espaços.

  - Fujam pelo túnel que nos trouxe até aqui. - Continuou o caçador. - Dentre todos é o que temos certeza que dará no exterior e sem lobisomens pelo caminho. Ítalo levará vocês e nos encontraremos lá fora, depois que eu der um jeito nesse bando de vira-latas fedidos.

  - Vou ajudá-lo com isso! - Disse Daise. - Sozinho não vai conseguir segurar todos eles.

  Apesar do conflito recente, Ivy despediu-se da irmã com um olhar de preocupação. Já Ítalo deixou claro que gostaria de ficar, mas entendeu sua missão de proteger os dois até a saída e deixar tudo preparado para a fuga de volta para casa. Assim, após estrondosos raios emitidos pelo arauto para abrir caminho, seguiram para os túneis, deixando Hérion e Daise sozinhos com as criaturas.

  - Acha que foi uma boa ideia separar a equipe? - Questionou Daise. - São muitos!

  - Não se preocupe. Agora, estou menos preocupado em protegê-los e posso me concentrar em dar uma boa surra nesses lobos. Além disso, se esse bastão nas suas costas for a outra metade do cetro, temos algo muito poderoso em mãos.

  Ao que tudo indicava, a paciência dos lobisomens havia acabado e uivos ferozes pareceram o alerta de que uma guerra se iniciaria naquele exato momento. O primeiro lobo os atacou, em uma arrancada perigosa. Em resposta, Daise lançou duas descargas de seu poder. Apesar de errar a primeira, a segunda o acertou em cheio, derrubando a fera sobre o chão da caverna. Em seguida, a mulher fez um truque semelhante ao que usou em Ítalo, manipulando sua energia para envolvê-la numa das bestas. Deu certo, ela lançou uma criatura contra a outra em um baita choque entre os corpos. Burty, por sua vez, gostava mais de combates a curta distância. O caçador corria pela caverna se esquivando de garras e mordidas e nas aberturas que enxergava aplicava sempre um golpe potente, com uma força sobre-humana. Hérion combinava bem seus ataques físicos com as magias que aprendera por toda sua vida, além disso ele também se utilizava de alguns apetrechos como cordas e shurikens.