Capítulo 11 - Beatriz

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Janaína arrumou a mesa, ajudei no que era necessário. Renan e os irmãos Vasconcelos estão sentados na sala, conversando sobre a produtividade das grandes empresas. 
A cozinha espaçosa da Janaína, é conjugada com a sala de estar, conseguimos ouvir toda conversa dos rapazes. 

— Amiga, pode colocar o resfriador de vinho no centro da mesa. 

Ela me entregou o eletrônico, com uma garrafa de vinho branco. A minha boca salivou, sou apaixonada por vinho. 
Antes de voltar ajudar a Jana com os últimos preparativos para o jantar, observei a mesa bem decorada. A nossa anfitriã estava fazendo o possível para tornar essa noite memorável. 

— Não acredito; — a voz do Renan ecoou no apartamento. — É sério? Amor, vem ver… corre aqui! 

Janaína como era mais curiosa que eu, saiu correndo para ver do que se tratava os gritos do marido. 

— Meu Deus, Renan. Você vai incomodar os vizinhos com esses gritos? 

Aproximo-me meio embaraçada, tentando não olhar na direção dos irmãos Vasconcelos. 

— Veja… — Renan entregou um panfleto ou uma foto. — O mundo é muito pequeno. 

O marido da minha amiga encarou meu perfil, rindo com malícia. Ele bebericou um pouco do vinho, voltando a sua atenção para o William. 

— Por que você nunca me contou que conhecia o William? Ele trouxe uma foto da infância de vocês. 

O choque foi inevitável, senti ondas de calafrios percorrer a minha espinha. 
O marido da Janaína não tem conhecimento dos meus traumas, ele não sabe dos abusos e dos estupros. São detalhes da minha vida que luto bravamente para esquecer. 

— Aqui… — Janaína me entregou a foto que estava segurando. As minhas mãos estavam tão trêmulas, na verdade… meu corpo inteiro está tremendo. 

Olhei a foto, analisando o rosto de uma garotinha. Ela estava feliz com seus amigos, dois meninos que ela amou com todo seu coração. 
Meu estômago começou a embrulhar, uma ânsia de vômito subiu pela minha garganta. As lágrimas inundam meus olhos, depois escorrem na minha bochecha. 
Ela não tinha medo quando brincava na Mansão Vasconcelos, mas sua segurança durava muito pouco. Então, ela tinha que enfrentar o quartinho escuro. A mãe dela lavava o seu corpo no banheiro depois que era usado e machucada, em seguida estava pronta para encontrar o próximo cliente. 
Um soluço escapou da minha garganta. 

— Por quê? POR QUÊ? — Gritei limpando as minhas lágrimas. 

William sobressaltou, olhando-me alarmado. Samuel ficou imóvel, arregalando os olhos na minha direção. 

— Aí meu Deus; — Janaína arrancou a foto da minha mão. — É um gatilho… Will, você não deveria ter trazido a foto. 

Passei as mãos trêmulas no rosto, balançando a cabeça. Desgraçado, ele fez isso de propósito! 

— Eu não sabia, eu trouxe a foto porque pensei que ela ficaria feliz. Uma pessoa querida que ama muito a Beatriz, queria que ela ficasse com essa foto. — William alterou a voz. — É apenas uma fotografia, puta que pariu. 

— Você é desprezível… — Digo com os dentes cerrados. — Preciso de ar, não consigo… Perdão, eu não posso ficar aqui! 

Corri até a sacado do apartamento. 
São Paulo estava iluminada como sempre, a sua noite agitada e cheia de sons, apenas a temperatura estava um pouco amena. 
Uma brisa gelada bateu nos meus cachos, acariciando meu rosto e secando a pele úmida. Abracei meu próprio corpo, encostando-me na coluna da sacada. 
Inspirei fundo, buscando controlar meus batimentos. E principalmente, lutando para não ter outra crise de ansiedade. 
Você vai ficar bem, Beatriz. Não desconte as suas frustrações em pessoas amigáveis. 
A porta da sacada é aberta, sinto uma ondulação quente no ar. 
Que estranho… 

Milionário Sedutor (DEGUSTAÇÃO).Where stories live. Discover now