Capítulo 03 - Beatriz

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2012

Beatriz Oliveira 
 


Nunca gostei de multidões, faço de tudo para evitar baladas e barzinhos. Gosto do silêncio, das horas que passo estudando no meu quarto ou assistindo um filme com a minha família. O ambiente escuro das baladas, sempre desencadeiam lembranças que há anos estou lutando para esquecer. 

— Beatriz, você não está ouvindo a minha explicação? — Jana acorda-me dos meus devaneios. 

— Desculpa, eu estava pensando…

— Por favor, não vai me abandonar sozinha aqui. Você prometeu…

Sim, eu prometi que participaria de uma balada próxima do Shopping Curitiba. Ela conseguiu me convencer, Jana está gostando de um garoto do cursinho pré-vestibular. E tudo indica que ele vai estar aqui com seus amigos, agora preciso sentir o cheiro forte de cigarro ou o cheiro do álcool que meu pai passava nas mãos para… afasto imediatamente as lembranças da minha cabeça. 
Não posso decepcionar a Janaína, ela nunca questionou meus temores. Ela sempre foi uma amiga confiável, ficando ao meu lado mesmo conhecendo minha personalidade difícil. 
Janaína é a minha melhor amiga, nos conhecemos no ensino médio. E somos amigas inseparáveis desde então. Ela não conhece meu passado ou os motivos que me tornam tão anti social, mas sabe que sou adotada que tenho duas mães maravilhosas. 

— Eu vou ficar, não vou abandoná-la na balada, com vários assediadores de plantão. 

Jana olha-me com uma expressão séria. 
Ela processou a minha resposta por alguns segundos, depois gargalhou sem parar. 

— Meu Deus… — cobriu a boca com a mão para conter um pouco o excesso de riso. 

— Não tem graça! 

— Você é tão dramática. É apenas uma balada com vários jovens, não vai acontecer nada de ruim. 

— Aff, você não conhece ninguém que está presente nesta fila. Qualquer pessoa pode ser um serial killer. — Digo, num tom áspero. 

— Bea… — Jana modificou o seu semblante, fechando o sorriso alegre. — Tem algo que gostaria de perguntar. Mas não sei como começar ou como fazer a pergunta certa…

— Jana, você sabe que pode me perguntar qualquer coisa. Eu confio em você e você confia em mim, somos melhores amigas. 

Ela pigarreou a garganta, buscando a sua voz novamente. 

— Você gosta de meninas? 

O quê?
Fiquei completamente boquiaberta, sem saber o que dizer. Janaína notou a minha confusão e começa sua explicação: 

— Por favor, não fique magoada com a minha pergunta. Você nunca fica interessada por meninos, sempre está afugentando qualquer garoto que tenta se aproximar, não gosta de contato físico com o sexo oposto… — busca fôlego. — É quase impossível um garoto ganhar o seu coração, porque você simplesmente não permite. Sou a única que consegue passar as suas barreiras, às vezes penso que possa estar apaixonada… — ela morde o lábio inferior, depois corta contato visual — apaixonada por mim! 

Agora foi a minha vez de gargalhar. 
Não sou lésbica, mas se fosse… Eu não teria problema nenhum em falar abertamente sobre a minha sexualidade. Gosto de garotos, até beijei alguns colegas no ensino médio. O problema está no meu caos, nos meus medos e traumas. Pensar em dormir, transar ou ter qualquer contato mais íntimo com um garoto, acaba desencadeando as minhas crises. Não tenho coragem, força e principalmente confiança para abrir meu coração, acredito que nunca vou conseguir dormir com alguém. 

Milionário Sedutor (DEGUSTAÇÃO).Onde as histórias ganham vida. Descobre agora