Capítulo 4

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Zero se aproximou daquela casa singela que ficava em um bairro afastado do centro de Emestina. Logo de longe, pôde observar uma mulher de aparentemente 35 anos estendendo a roupa em frente à residência. Ela o olhou desconfiada e semicerrou os olhos.

— Quem é você? — perguntou ela assim que observou aquele homem bem vestido se aproximar de sua casa. Zero vestia um terno preto e usava um chapéu da mesma cor. Ele olhou em volta, o lugar era especialmente afastado do restante da cidade, além de ser envolto por árvores de grandes copas. Ele respirou fundo mais uma vez. Perto dali passava um rio, tinha certeza, podia sentir o cheiro gostoso característico da água doce. O detetive voltou seu olhar para a mulher de vestido simples, avental e cabelos desarrumados que o olhava impaciente.

— Sou um representante de Jogos do centro de Emestina. Estou procurando por novos investidores — respondeu amigavelmente.

A mulher fez uma careta revirando os olhos e levando as mãos a cintura.

— Se você está procurando o patife do Marcone, ele não está! — Cuspiu no chão. Ela carregava uma cesta com roupas e as estendia em um fio que ia de uma árvore com tronco largo até um pedaço de madeira próximo à sua porta. Zero tirou seu chapéu.

— Quem é?! — Um homem saiu da casa. — Para de mentir, mulher! — brigou observando Zero. Parecia ter escutado a conversa. — Eu sou o Marcone e odeio enrolação, pula logo para quanto vou ganhar...

Zero sorriu.

— A conversa será um pouco longa...

— Arruma uma cadeira pro homem, mulher! — Marcone gritou fazendo a mulher dar um pulo no susto. Zero estalou a língua, odiava pessoas que gritavam fosse por qualquer motivo. Detestava esse tipo de mania.

E assim, ele conseguiu entrar na casa daquele homem. Não foi difícil saber que Marcone era um viciado em jogos. Ele era bastante conhecido pelas pessoas da periferia, e alguns dias atrás Zero andou o observando. Marcone chegava cedo e gastava um pouco, depois acabava bêbado ou em brigas. Era um verdadeiro patife, como sua mulher o titulou, mas algo o intrigou. Como Marcone conseguia dinheiro para manter seus jogos? E foi isso que o motivou a ir até a casa desse homem com uma história sem pé nem cabeça, mas que pelo visto, eles engoliram.

Tudo isso era por conta do caso de Elleanor. Zero teve que fazer uma pesquisa bem ampla a respeito e não foi tão difícil localizar o cocheiro que dirigia a carruagem no dia do acidente. Seu nome até estava no caso, mas ele tinha deixado de ser um suspeito porque também se machucou e correu para chamar a polícia. No entanto, para Zero, isso era apenas um mero detalhe...

Assim que se sentou na cadeira, a mulher colocou um pedaço de bolo em um prato para ele. Zero observou a mesa suja de migalhas de pão — e outras coisas que ele não soube identificar —, e o bolo solado que ela lhe dera de malgrado.

— Deseja café? — perguntou ela esfregando as mãos no avental que vestia.

— Não, obrigado. — Zero sorriu sem mostrar os dentes e notou que Marcone, já impaciente, cruzou os braços e as pernas em um claro sinal de que não estaria muito aberto a conversa. — Vejo que o senhor é muito bom com jogos. — Zero falou e o homem sorriu.

— Pare de me amaciar e desembucha! — Gotículas de saliva repousaram no rosto de Zero. Ele limpou com uma das mãos sentindo um pouco de repulsa e olhou em volta. Eles não tinham muita organização no local. Havia roupas espalhadas e um leve cheiro de urina vindo de um compartimento cujo a porta estava fechada. Além disso, o chão estava um pouco grudento.

UM DETETIVE PARA LADY EVENS (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora