Capítulo 1

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ALGUMAS SEMANAS ATRÁS:


Era tarde, fim de tarde para ser mais exato. O escritório estava calmo como ele gostava que ficasse. Ele olhou em volta. Era um lugar rústico, todos os móveis eram de madeira. As duas paredes da sala eram cobertas por estantes repletas de livros. Próxima a grande janela, e no canto da sala, estava sua escrivaninha — porque ele odiava ficar de costas para qualquer saída. — No centro, dois sofás e uma mesa redonda onde descansava uma xícara de chá de camomila — que ele adorava — e em sua escrivaninha, uma bagunça de papeis.

Zero estalou a língua ao observar aquele amontoado de folhas e prometeu a si mesmo que seria mais organizado com tais documentos, mas sempre que os arrumava, tudo se perdia e só os encontrava quando estavam nesse estado: uma bagunça organizada de papeis. Ele levou a mão a testa sentindo uma leve dor de cabeça e abriu sua gaveta para tirar de lá alguns comprimidos que o médico da cidade dizia ser milagroso. No entanto, ele não viu nenhum resultado com tais medicações.

Alguém bateu em sua porta com força. O homem levantou o olhar e retirou os óculos de leitura. As batidas na porta eram firmes e brutas. Quem poderia ser? Se perguntou fechando a gaveta e cruzando as pernas ainda sentado em sua poltrona de couro marrom.

   — Entre — pediu calmo, e a porta foi bruscamente aberta por um brutamontes de terno. O homem estava vermelho como um pimentão de época e, pelo visto, parecia muito irritado. Zero sorriu sem mostrar os dentes. — Senhor Parker, é um imenso prazer tê-lo em meu escritório esse fim de tarde — afirmou ironizando o "imenso prazer".

   — Não me venha com conversas, Tuller. Eu imaginei que fosse meu aliado! Como pôde ter contado a minha mulher?! — A saliva que saia da boca do homem melava o carpete do senhor Tuller. Zero se lembraria de limpar aquele lugar futuramente.

   — Não me recordo de ter me aliado ao senhor. — Ele juntou as mãos o observando. — Pode me refrescar a memória? — perguntou inclinando a cabeça fazendo com que uma mecha de seus cabelos negros e ondulados se desprendessem do topete e caíssem em sua testa.

   — Não me venha com graça, Tuller! Não estou com paciência para tais brincadeiras! — Benedito Parker, como era chamado, se aproximou subitamente e bateu com força sobre a escrivaninha de Zero. O detetive observou aquelas mãos suadas e imundas sobre seus papeis e voltou a olhar para o homem nervoso.

Zero suspirou e se levantou calmamente.

   — Senhor Parker, sou um homem que trabalha honestamente. Uma cliente veio até mim aos prantos, tadinha. Como podia deixar de acatar com seu pedido diante de tal cena? — Seu tom era irônico, o que deixou o pimentão vermelho ainda mais vermelho.

Benedito riu levando as mãos a cintura, então olhou para cima e respirou fundo.

   — Seu filho de uma mãe! Você aceitou meu dinheiro para não falar nada! — Ele se aproximou rapidamente e segurou Zero pelo colarinho.

Zero levantou as mãos em sinal de rendição, apesar de que seu olhar não parecia nenhum pouco assustado. Ele pensava que, a essa hora, seu chá já deveria estar na temperatura perfeita para ser ingerido.

   — Esta frase tem dois erros. Permita-me apontá-los — Zero falava em um tom calmo. — Primeiro, eu não tenho uma mãe, e segundo, eu não aceitei seu dinheiro. O senhor simplesmente colocou o dinheiro em minhas mãos e pediu que eu não falasse nada. O dinheiro, bem, aceitei, já o pedido...

   — Maldito! — Parker deu um soco no rosto de Zero. O homem cambaleou até cair de joelhos. Zero sentiu o gosto de sangue e limpou o canto da boca com os dedos antes de se levantar. Ele observou o sangue em seus dedos. Àquela cor era fascinante. Parker voltou a se aproximar, mas Zero retirou de seu cinto uma pequena pistola fazendo o pimentão vermelho parar assustado.

UM DETETIVE PARA LADY EVENS (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now