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Logo atrás de Lauren. Camila passou pela porta de vai e vém e atravessou o salão de refeições em direção à cozinha. O que viu pelo caminho não foi muito encorajador: manchas de óleo nas toalhas xadrezinhas que cobriam as mesas, as cadeiras desemparceiradas, as flores de plástico simplesmente ridículas num mundo repleto de vegetação natural.

Embora o salão estivesse limpo, a decoração era tão fora de moda que parecia pertencer aos anos trinta. Mas havia um ponto positivo naquele local de debilitada arrumação: a vista do Golfo, que se filtrava através das janelas que iam do chão ao teto. Era um cenário espetacular, que estava ali para o restante da eternidade.

Sim, o SummerSun tinha possibilidades.

Lauren esperava junto à porta da cozinha, enquanto ela atravessava o salão devagarinho. Camila não se importava com os olhares de reprovação que recebia: queria conhecer e analisar os mínimos detalhes do estabelecimento comercial que um dia fora de seu pai.

- Então, qual é o veredicto? - perguntou Lauren, impaciente.

- Reservo meus comentários até ter visto tudo e conversado com todos.

- E depois? - Ela estava parado à porta, mas não fez menção de abri-la.

- Depende.

- Mal posso esperar. - Lauren finalmente abriu a porta. - Agora por que não entra e fala com Arthur? Creio que ficará impressionada com ele.

Curiosa. Camila entrou na cozinha atrás da sócia.

Toda equipada com aparelhos de aço inoxidável, a peça impressionou-a por ser moderna e prática. Uma boa surpresa, sem dúvida.

O cozinheiro-chefe estava em pé num canto. Era um homem de meia-idade, altíssimo, magro, de pele escura. Havia dois aspectos em sua aparência que chamavam a atenção. Estava todo vestido de branco: calças brancas de algodão, camiseta branca, avental branco impecável. E era totalmente careca.

- Apresento-lhe nosso chefe, Arthur Lapierre. Arthur, esta é Camila, filha de Alejandro.

Arthur não largou a faca afiada que empunhava, mas olhou para Camila lá de cima e falou, no ritmo cadenciado do Caribe:

- Ora, ora, a menininha de Alejandro.

Ela meneou a cabeça, ainda sem conseguir responder. Estava um pouco intimidada com o homem.

- Sinto muito pelo seu pai. Era um grande sujeito.

- Obrigada, é gentileza sua - respondeu Camila. - Prazer em conhecê-lo... Arthur.

Ficaria mais à vontade se o chamasse de sr. Lapierre, mas estava decidida a mostrar autoridade... Se bem que, na presença daquele homem estranho, a última coisa que conseguisse sentir fosse autoridade.

Lauren, com uma displicência irritante, foi até o refrigerador, abriu-o e deu uma espiada lá dentro.

- O camarão parece bom, Art.

- É, está bom mesmo - foi a réplica lacônica de Arthur enquanto pegava um linguado, destripava-o e com mais dois movimentos rápidos, tirava a espinha e o jogava sobre outros peixes ao lado da pia.

Camila observou, hipnotizada.

- Bem, agora que as apresentações já foram feitas... - falou Lauren, indicando a porta a Camila.

- Foi mesmo um grande prazer - disse Arthur, despedindo-se e voltando ao trabalho.

Lauren fez menção de sair, mas Camila lhe impediu o movimento:

- Espere um minuto. Não devia contar a Arthur o que está acontecendo?

- Mais tarde - respondeu Lauren, tentando, sem sucesso, levá-la embora.

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