Capitulo 21

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O plano, percebo, é vencer-me pela exaustão.

Meus captores me deixam trancafiada dia e noite. Nas primeiras horas, não durmo; por fim, após uma longa vigília, desmaio de cansaço. Eles retornam de tempos em tempos com refeições insípidas e copos de água, completamente equipados e preparados para lidar com as minhas explosões de poder.

Sou inútil. Não consigo salvar sequer a mim mesma. Como salvarei Caleb?

O mesmo carcereiro vem e volta. Todas as vezes que ele entra, tento cercá-lo.

-- Caleb está bem? -- pergunto, inutilmente -- Me dê alguma notícia, por favor.

-- Você vai vê-lo em breve. Coma tudo. -- é tudo que diz antes de partir.

Então como. Se é esse o preço que preciso pagar para saber se ele está bem, comerei quilos dessa gororoba, até me fartar. Só uma notícia. Um sinal. É tudo que preciso.

Onde estará Christine?, me pergunto, então. Será que está tentando nos encontrar, e, se estiver, será que deixamos alguma pista? Devemos ter deixado. Se Christine conseguiu nos colocar na trilha do meu passado, então ela vai conseguir nos encontrar agora.

Mas talvez não devesse, diz uma voz na minha cabeça. Se nos encontrar, então ela também estará em perigo.

Mas já não está? Eu os coloquei em perigo no momento em que Caleb me encontrou, e em todos os momentos desde então. Estavam fadados ao risco por me acolherem. Nada mudará isso agora.

Oito refeições depois, a porta se abre. Não faz tanto tempo assim desde a última, não mais do que algumas horas -- muito menos tempo do que os intervalos anteriores, disso estou certa.

Não é o mesmo carcereiro agora. É um mais baixo e mais magricela do que o anterior. Ele usa uma máscara, mas há tatuagens a perder de vista, cobrindo seus ombros, seu pescoço e parte da cabeça raspada. Ele não traz uma bandeja, e sim uma camisa de força e uma pequena maleta de metal. Atrás dele, posso ver a silhueta de uma pessoa menor, mais ou menos da minha altura, e a julgar pelo cabelo preso, acho que é uma mulher.

-- O doutor quer te ver. -- o homem diz, a voz rouca como um latido -- Agora, vamos fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil?

Não sei qual o jeito fácil nem o jeito difícil. Tampouco quero descobrir. Faço as contas rapidamente.

Ele é menor, mais fraco. A moça atrás dele parece se esconder. Se eu pegá-los de surpresa, talvez tenha uma chance. Talvez consiga sair. Se sair, talvez consiga encontrar Caleb.

Não penso. Ajo.

A escuridão sai de mim num jorro tão veloz e preciso que lança o homem para o lado, tirando-o do meu caminho. Atrás dele, a mulher se encolhe, e aproveito o segundo de distração para disparar porta afora.

As sombras me acompanham, cegando o corredor. Estou certa de que conseguem me ver pelas câmeras especiais, mas isso não servirá de nada se não conseguirem me pegar. Saio para um longo corredor de portas idênticas, todas escancaradas. Não há mais ninguém ali além de mim.

Caleb. Onde estão prendendo Caleb?

Ouço movimento às minhas costas. No segundo de susto, congelo. Olho para trás.

A mulher, pequena e franzina, vem correndo na minha direção, um olhar decidido no rosto. Tento voltar a correr, mas minha hesitação me custou tempo demais; ela está me alcançando, e mais perto, e mais rápido, e mal dou dois passos antes que sinta sua mão se fechar ao redor do meu pulso, me puxando para trás com toda a força.

Ela me derruba no chão, prendendo meu braço atrás das costas. Me debato, mas as sombras não têm tempo de me obedecer. Sinto alto fino e gelado contra o pescoço, e o torpor familiar dos químicos invadindo meu sistema. Não há mais fuga. Não há mais dor. Não há mais Caleb. Não há mais nada.

No EscuroWhere stories live. Discover now