Capitulo 13

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Fico as horas seguintes no quintal, deitada sob o sol, observando o céu azul. Não lembro de algum dia ter visto um céu tão bonito, ou de ter me sentido tão confortável quanto me sinto agora; não sei se por de fato jamais ter experimentado ambas as sensações, ou se porque o que quer que tenham feito comigo tirou-me mais aquelas lembranças. A esta altura, duvido que qualquer resposta me surpreenderia.

Quando o sol começa a desaparecer e o jardim é tomado pela sombra do crepúsculo, a temperatura cai drasticamente. Todo o calor se vai tão rápido quanto veio, e o frio me obriga a procurar abrigo dentro de casa. Não há ninguém na cozinha quando entro, mas quando estou passando pela sala, indo em direção às escadas, ouço alguém chamar meu nome.

— Mayumi? Vem cá um pouquinho.

É Christine. Estranho, mas obedeço. Eu a encontro na sala, sentada em um enorme sofá preto, com o controle remoto na mão. A TV na parede está ligada em um canal de notícias, mas não há som algum. Observo os lábios da repórter se mexerem, e sinto que estamos conectadas, de alguma forma, ambas falando para o vazio, ninguém além de nós mesmas sendo capaz de escutar o que temos a dizer.

— Entra. Senta. — Christine diz, e dá dois tapinhas no assento ao seu lado.

Eu a encaro, um tanto confusa e apreensiva. Onde está Caleb? É mais fácil lidar com sua irmã quando ele está por perto — é a única forma que sei lidar com ela, percebo, já que não estivemos sozinhas nem um minuto sequer. Hesito por um instante, e então me sento na ponta do sofá, o mais distante possível dela, mal tocando o estofado, pronta para correr a qualquer sinal de perigo.

Christine me observa em silêncio, com um olhar atento. Seu escrutínio me deixa incomodada, e não sustento seus olhos por mais que um breve segundo. Nem assim ela se abala, e continua sua análise silenciosa por tanto tempo que me pergunto se o que a fez me chamar foi apenas para que pudesse me observar como a um rato de laboratório.

— Eu sei sobre você. — ela diz, por fim, e meu coração acelera.

— Sabe o que? — pergunto, rápido demais, ansiosa demais. Christine, contudo, não deixa transparecer um pingo de emoção.

— Sei do que é capaz. — responde, calmamente — Caleb não quer admitir, mas eu sei. Já sabia muito antes. Só preciso entender como.

— Não sei do que você está falando. — digo, e cruzo os braços contra o corpo. Meu coração bate a mil por hora, minha respiração ficando cada vez mais entrecortada.

— Não é uma acusação, ok? Mas não gosto que mintam para mim, especialmente quando estou tentando ajudar. — continua, e se inclina na minha direção.

— Não sei do que você está falando. Não tem mentira nenhuma.

Me levanto, e estou pronta para sair correndo quando Christine me detém, segurando-me pelo braço. É demais para mim.

Não sei como, nem o que estou fazendo quando a escuridão se abate sobre nós. É como uma explosão, saindo de mim com a força de uma bomba, empurrando o corpo de Christine para trás e selando a sala inteira em sombras.

Observo a escuridão quase material que nos cerca. Consigo distinguir as coisas, como se elas se iluminassem para mim, mas posso ver que Christine está completamente perdida. Não há a menor possibilidade de engana-la agora, não quando presenciou tão de perto. Penso nas palavras de Caleb: é sempre melhor controlar do que temer. Se eu tivesse um mínimo de autocontrole, isso não estaria acontecendo.

E então, tão rápido quanto se instalou, a escuridão se dissipa. Não, dissipa não é a palavra certa — ela retorna, como um bumerangue, sendo sugada para dentro de mim, para algum ponto acima do meu umbigo. No instante seguinte, o mundo está exatamente como era: a claridade da televisão enche a sala, as formas estão perfeitamente distinguíveis e Christine está completamente abalada.

— Eu sabia! — exclama ela, e ameaça me tocar novamente, mas parece pensar melhor — Como fez isso?

— Eu não sei. — digo, cruzando os braços para sair de seu alcance.

— Meu deus! Eu aqui brincando de CSI quando já estamos até o pescoço no Arquivo X! — diz ela, e solta um riso que beira o histérico. Franzo o cenho, mas não digo nada. — Isso muda tudo.

— Muda?

— Oh, muda! — Christine pega o controle e desliga a TV — Ainda não sei como, mas vou descobrir.

No EscuroWhere stories live. Discover now