☠ X - À meia-lua ☠

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As palavras de Nadine pareceram despertar o interesse de Makanda pelo objeto. Ela o abriu lentamente, investigando suas páginas com a habilidade de uma perita. Passou os olhos pelas linhas em que narrava sua primeira expedição à misteriosa ilha de Libertália, suas descobertas, o tesouro, os perigos enfrentados. Nada ali era novidade para a malgaxe. No entanto, ao se aproximar de sua jornada final por Madagascar, sua história terminava incompleta. Alguém arrancara as páginas.

— Henrique disse que este diário é uma herança de família. Acha que podem tê-las arrancado para ocultar algum segredo de seus descendentes?

— Muito improvável. Pelo que vejo, estas páginas estão faltando há muito. A pessoa que fez isso não tinha ligações de sangue com Kidd, assim como a pessoa que o roubou de seu verdadeiro dono também não.

— "A pessoa que o roubou", hein? — repetiu Nadine, lançando um olhar de sarcasmo para Henrique. — Então não se trata de uma herança de família, está mais para um crime de família.

A face de Henrique contorceu-se em uma carranca.

— Serei condenado também por algo de que nem fazia ideia? Este diário está em minha família desde que me entendo por gente; se alguém o roubou, isso ficou enterrado no passado, não há como saber quem o fez ou porquê. Além do mais, se eu encontrei a ilha com ele, mereço permanecer com ele.

— Você só a encontrou porque a ilha queria ser encontrada. — tornou Makanda em tom de mistério.

— Mas... por que? — quis saber Nadine.

— Porque chegou a hora da profecia se cumprir, embora ainda haja muitas questões sem respostas — disse a mulher, levantando-se, ainda com o diário em mãos. Ela caminhou lentamente, parando para fixar os olhos nas pinturas rupestres que cobriam a parede. — As páginas faltantes do diário, o garoto Omar, o próprio tesouro e a existência desta ilha, quantos mistérios ainda estão por se revelar? A profecia é apenas o ponto de partida.

Por um momento o silêncio imperou no recinto. De certa forma, todos ali sabiam que estavam em um beco sem saída. A profecia apenas revelava que a maldição seria cessada, culminando na destruição ou salvação, o que podia significar qualquer coisa.

— Mas você disse que eu poderia tentar entrar em contato com o meu pai — falou Nadine, a voz falhando em incerteza. — Talvez ele possa...?

A garota foi incapaz de continuar o seu raciocínio. À sua frente, Makanda soltou um terrível grito de dor, o diário fechando-se ao cair ao chão enquanto as mãos fechavam-se contra a cabeça em um gesto de genuíno sofrimento.

— Makanda? — chocou-se ela.

Zaki correu para ajudar a avó, ajoelhando-se e passando os braços em torno dos ombros da feiticeira para apoiá-la.

— Uma grande batalha se aproxima... — Makanda disse com uma voz rouca que não se parecia em nada com a voz dela. — Os tempos de paz acabaram... uma guerra terrível selará o destino da ilha para sempre...

— Uma guerra? — espantou-se Eric. — A ilha será invadida?

— Não, a ameaça está entre nós...

A mulher jogou o corpo para frente, a garganta arranhando em um esgar horrível. Se Zaki não estivesse ali para ampará-la, Makanda teria ido ao chão.

O silêncio incômodo voltou a reinar. Henrique e Elisa entreolharam-se com medo, temendo que achassem que ambos seriam os responsáveis por causar a tal guerra. Ninguém ousou respirar enquanto Makanda se recuperava.

— Skyller precisa saber disto o quanto antes — decidiu Nadine quando Makanda enfim voltou a se sentar, rompendo o clima de suspense profético. — Temos que voltar à vila agora mesmo!

Libertália: Raízes PiratasWhere stories live. Discover now