☠ X - À meia-lua ☠

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— Pode ser que ele tenha vindo do mundo exterior também, não é? — opinou Eric. — Quer dizer, se Omar não é um espírito e ninguém o viu antes, ele pode ter passado pela fronteira também, já que a magia está enfraquecida. Talvez a passagem de Henrique e Elisa a tenha aberto definitivamente.

Henrique olhou para ele de cara feia. Estava farto das pessoas insinuarem que ele era o culpado de tudo.

— Ele não veio do mundo exterior — disse de mau humor. — Sua roupas não são modernas, ele não pertence ao nosso tempo.

Henrique tinha razão. Elisa sentiu-se um pouco mais aliviada ao perceber que aquela sensação de familiaridade não fazia o menor sentido.

— O que nos leva à próxima questão — falou Nadine, retomando o seu raciocínio. — Como ele sabia da gruta e do tesouro? E qual a sua intenção em nos mostrar a ampulheta danificada?

— Ela piorou, então? — Os olhos de Makanda encontraram-se com os de Zaki, que abaixou a cabeça em um pedido de desculpas silencioso.

— Eu a vi com meus próprios olhos. O vidro está todo trincado, a força com que a magia o está pressionando... não sei por quanto tempo conseguirá aguentar, talvez só mais alguns dias.

— Isso é ruim... muito ruim — sentenciou ela em tom sombrio.

— Makanda... — Nadine chamou em tom baixo, mexendo de forma hesitante em algo no bolso interno de seu casaco. — Tem mais uma coisa...

Ignorando por completo os protestos silenciosos de desespero de Henrique, Nadine puxou o diário para fora, estendendo-o com cuidado para a mulher malgaxe, como uma bomba prestes a explodir.

— O diário de William Kidd — Makanda suspirou em desgosto antes mesmo de pegá-lo. — Eu esperava não vê-lo nunca mais.

— Você sabia sobre ele? — espantou-se a garota.

— Lembro-me bem deste diário — disse, acomodando o caderno em seu colo enquanto os dedos passeavam pela capa de couro. — De quando o capitão Kidd o estava escrevendo...

— Mas então... ele a conhecia?

— William Kidd passou seus últimos dias na ilha de Madagascar, com o meu povo. Quando a marinha inglesa o levou, já não passava de uma sombra do homem que um dia havia sido. Muitos diziam que não teve sorte, mas a verdade é que ele foi avisado de que sua busca só lhe traria sofrimento, o que de fato aconteceu.

— Eu li a profecia... ela fala sobre Libertália, não é? O aviso era sobre isto? Ele sempre esteve atrás de meio de voltar à ilha.

— Ah, sim, a profecia — tornou Makanda em um tom ainda mais sombrio. Apesar do dia ainda estar claro, uma coruja passou guinchando, provocando arrepios aos presentes. — Foi revelada a Kidd por uma profetisa malgaxe, mas apesar de deixar claro que uma passagem no tempo de trezentos anos seria necessária para que a maldição fosse desfeita, ele estava determinado a encontrar a chave que destravaria a fronteira da ilha e por isso fez um pacto perigoso com os deuses malgaxes em troca da revelação. As coordenadas foram obtidas e ele não se importou com as consequências, mas no fim acabou pagando um preço muito alto por elas. Quando foi executado, a culpa o consumia por inteiro.

Henrique passou a mão pelo pulso da tatuagem, mas seu rosto era uma máscara impenetrável. Talvez Nadine estivesse certa em dizer que ele não estava revelando toda a verdade.

— Sim, as coordenadas realmente foram anotadas ao lado da profecia. Eu li um pouco dele, mas estão faltando algumas páginas no fim... a última viagem para Madagascar, seus últimos dias como prisioneiro antes da execução, nada disso está aí.

Libertália: Raízes PiratasWhere stories live. Discover now