14. Feel like making love

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Ao ar pesado e quente da cozinha, permeado por vapores e chiados, misturou-se um longo gemido abafado.

O som, vindo do fundo da garganta de Valentine, era uma reação involuntária, reflexo do que aquele roçar da barba em seu pescoço fazia com o seu corpo. O toque dele, firme em sua nuca, e a respiração entrecortada contra a sua pele faziam com que Tin se arrepiasse, suas mãos trêmulas tentando desabotoar o dólmã enquanto ele erguia a saia roxa do seu vestido sem a menor cerimônia.

De olhos fechados, ela só sentia o próprio corpo à media em que era desbravada por ele, cada contato pontuado por um murmúrio ou arfado. Quando os beijos desceram pelo seu decote, vorazes e cheios de desejo, ela arqueou as costas, buscando apoio na prateleira atrás de si.

A panela em que esbarrou caiu ruidosamente no chão, o estampido metálico atrapalhando-os brevemente.

— Cuidado aí, Jones — Ben lhe sorriu, as íris escuras pelo desejo e a respiração tão ofegante quanto a dela.

A revelação fez com que ela buscasse ar, acordando assustada no escuro quarto que ocupava na casa da Kensington Street.

— Droga — resmungou baixinho, esfregando o rosto e soltando um suspiro frustrado. Era a terceira vez, só naquela semana, que ela tinha aquele tipo de sonho com o próprio chefe.

Não que os sonhos, em si, fossem ruins. Muito pelo contrário, na verdade. Mas quando a manhã chegava — ou, naquele caso, a madrugada — ela se pegava insatisfeita, frustrada e cheia de culpa. E mal conseguia olhar na cara dele, tamanho peso em sua consciência.

Maldizendo sua imaginação fértil, Tin resolveu ir à cozinha. Talvez um copo de água ajudasse a amenizar aquele calor todo?

*****

De todas as pessoas — Benjamin pensava, enquanto picava, refogava e amassava ingredientes sem já nem prestar atenção ao que fazia —, de todo mundo que podia ter mandado esse maldito link...

Seus pais. Um dos seus amigos, embora talvez pudesse contá-los à mão, agora. Seu advogado teria sido uma boa aposta. Céus, aquilo era exatamente o tipo de mensagem que ele esperava receber de sua antiga agente! Mas, não.

Tinha que ser Elisa.

E Ben sentia ­raiva. Uma raiva descomunal, tão grande que nem mesmo atacar a carne com sua faca de chef a tinha aplacado.

O pior de tudo é que ele já nem sabia mais do que sentia tanta raiva assim: se por ver sua vida devassada em um site de fofocas, se por ter sido a sua ex-mulher a lhe enviar a notícia ou se por, depois de um dia longo e cansativo no pub, ele ainda se importar com qualquer uma daquelas coisas.

Mas ali estava ele, na cozinha, às quatro da manhã, o corpo exausto pelo trabalho do dia anterior, mas a mente incapaz de desligar.

Como é que o The Sun sequer tinha tido acesso àquelas informações? Ele sabia que tudo tinha sido feito de forma a proteger a sua intimidade. Quando à época do acidente, o próprio pai cuidara para que o relatório policial desaparecesse. Os advogados da família garantiram que todo o corpo médico que lhe atendera assinasse um termo de confidencialidade. Até mesmo seu divórcio com Elisa corria em segredo de justiça. E agora, Ben, sempre discreto apesar da sua persona pública, via-se exposto ali — e, para piorar, ainda tinha aquela insinuação final de que ele "No momento, trabalha em uma espelunca perdida no interior. Uma queda e tanto para quem já foi o chef queridinho do país!"

Como ele adoraria fazer picadinho de quem quer que tivesse dado a língua nos dentes...

Valentine estancou na porta da cozinha assim que viu Ben à beira do fogão. O vapor da cocção criava uma certa aura ao redor dele, que alternava o peso do corpo entre as pernas. Os braços, expostos pelas mangas enroladas do agasalho, logo chamaram a sua atenção, e ela se lembrou do sonho: ele erguendo os braços dela sobre a cabeça e segurando-os enquanto... Tin piscou, engolindo em seco e beliscando o próprio braço.

Em Alto e Bom SomWhere stories live. Discover now