03. Under Pressure

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O burburinho constante do vai e vem de pessoas se unia à cacofonia das diferentes músicas tocadas por cada banquinha, cada loja e cada food truck montado no lugar. Foi ali, em meio à confusão de idiomas e de negociações, de ofertas e de aromas que apenas Camden Town poderia oferecer que Wren quase se bateu em uma garotinha, distraída demais pela gargalhada rouca e pungente que Zach oferecia; ela mesma com um sorriso no rosto.

– Eu passei meses jurando de pé junto que era uma música dos Stones... – só era possível entender plenamente o que ela dizia porque os dois andavam juntos, ombro a ombro, apenas a diferença de altura entre eles.

– Espero que você tenha se educado em Bowie desde então – Byrne sorriu, afastando do rosto uma mecha de seu cabelo negro.

Mesmo em um rápido olhar era possível perceber a postura descontraída dele. Aquele era provavelmente o mais confortável que ele já estivera ao seu lado, mesmo depois de semanas trabalhando juntos.

– Nah – ela sacudiu a cabeça, fingindo um pouco de desdém enquanto encarava o mostruário de um dos boxes – Heroes é a única música dele que presta, mesmo... – mordiscando a ponta da língua, como que para segurar o próprio sorriso, ela ergueu o olhar em sua direção, encontrando-o com um ar de incredulidade estampado em cada centímetro do rosto.

– Você tá de sacanagem, né?

Foi a vez dela de gargalhar, sacudindo os fios loiros.

– Relaxa, eu adoro Bowie... Mas foi divertido ver a sua cara – ela sorriu e ele levou uma mão ao peito, exalando de forma dramática e exagerada.

– Você não pode me dar este tipo de susto, Catherine...

– Ei! – Ela bateu o ombro contra o dele, de leve – Continue me chamando assim e veremos como você vai voltar para Windfield, uh? – A ameaça foi acompanhada de um sorriso, e ela logo voltou sua atenção ao conjunto de ilustrações em estilo old school à amostra no display.

Naquele domingo, nem mesmo o uso completo de seu nome, a horda de turistas mal-educados ou a estrada até Londres teriam mudado o seu bom humor. A obra do pub estava finalizada e aquilo era motivo suficiente para que ela estivesse exultante. Só precisava garimpar alguns objetos de decoração – aqueles que dariam ao espaço a identidade que ela tanto procurava – e o trabalho estaria terminado. Pelo menos aquela parte do trabalho.

E era por isso que estavam na capital, batendo perna pelo bairro boêmio que um dia tinha sido quase uma segunda casa para ela, quando deveriam estar descansando suas colunas em seus respectivos colchões. Bem, Wren estava ali por isso. Zach tinha sido oferecido sem a menor hesitação pelo seu tio como carregador honorário para as compras.

"Aposto que ele queria uma desculpa para passar o dia com a senhora Adams", ele brincou assim que entrou no moderno carro da loira, naquela manhã, arrancando dela um sorriso. O senso de humor afiado era uma das coisas que ela mais apreciava no rapaz. Logo quando o conheceu, taciturno e arredio, achou que seria esquisito dividir os dias com ele, mas sua companhia se tornara uma surpresa grata. Entre martelos e brochas, canos e tintas, a conversa passou a fluir fácil entre os dois, sempre guiada pela paixão compartilha pela música. Demorou pouco para que ele deixasse para trás o que Wren entendia como medo de encará-la, e ela até já se arriscaria a dizer que Zach era um amigo em Windfield.

Em dúvida sobre quantos e quais pôsteres levar, ela se distraiu. Escolheu, separou e escolheu novamente, conversando com a vendedora de cachinhos roxos sobre as ideias que tinha para o bar. Queria algo moderno, que bebesse nas referências musicais e de filmes e de design, talvez com um pé no industrial... A garota apresentou mais algumas opções de pôsteres, e por fim, mais a confundiu que a ajudou.

Em Alto e Bom SomOnde histórias criam vida. Descubra agora